O Agente Secreto e o preconceito de rotulá-lo como filme de ditadura
O Agente Secreto é rotulado como “filme de ditadura”, mas a obra de Kleber Mendonça Filho transcende esse estigma com uma narrativa sobre memória e repressão.
O lançamento de O Agente Secreto, produção de Kleber Mendonça Filho protagonizada por Wagner Moura e indicadíssimo para o Oscar, tem gerado na internet uma polêmica entre os espectadores: a acusação de ser mais um “filme de ditadura” brasileiro.
Refutando o rótulo simplista
Esse tipo de crítica ignora não apenas a complexidade narrativa do filme, como também reduz o cinema nacional a temas restritos. O cinema brasileiro é plural, navegando por diversos gêneros e narrativas, e rotulá-lo apenas por sua abordagem histórica demonstra desconhecimento e preconceito. Mesmo que abordasse o período autoritário brasileiro, qual seria o problema de revisitá-lo?
O Agente Secreto não é um filme sobre ditadura
Diferente de Ainda Estou Aqui, longa de Walter Salles, que é um drama familiar tragicômico diretamente ancorado na Ditadura Militar, O Agente Secreto prioriza a cultura, memória e o apagamento histórico, sem falar explicitamente em “Ditadura Militar”. Apesar da ambientação e de evidências claras do contexto opressor da época, o roteiro não menciona o regime pelas suas palavras, deixando subentendido na atmosfera tensa entre personagens como Marcelo (Wagner Moura) e seus perseguidores.
O filme transita dentro do suspense político e familiar, onde a ditadura apenas compõe o pano de fundo de uma trama maior sobre repressão e memória. Assim, o rótulo de “filme de ditadura” não apenas é impreciso como diminui a riqueza do enredo.
Comparações e estereótipos limitam o cinema nacional
Enquanto produções internacionais sobre guerras e regimes autoritários, como aquelas sobre a Segunda Guerra Mundial, são amplamente aceitas sem rótulos redutores, os filmes brasileiros frequentemente são expostos a preconceitos como “filmes de ditadura” ou “filmes de favela”. Essa desigualdade histórica reflete sobre o conhecimento limitado da própria história nacional e a hegemonia hollywoodiana que molda a percepção popular do que é relevante ou heroico.
Além disso, saber que o período militar moldou fortemente a sociedade brasileira — inclusive comunidades como a Cidade de Deus, fruto de políticas urbanísticas e contextos sociais da época — é fundamental para entender a produção cultural local, como demonstra O Agente Secreto.
Resistindo a pirraças e valorizando a diversidade do cinema nacional
Desmerecer o filme reduz a narrativa da cultura nordestina que ele traz, assim como o carisma dos personagens e o legado histórico que propõe revisitar. O cinema nacional, apenas neste ano, tem explorado uma plêiade de gêneros, desde thrillers políticos até faroestes e cinebiografias musicais, provando sua vitalidade e diversidade.
Chamar O Agente Secreto de “filme de ditadura” é uma pirraça simplista que constrange a pluralidade cultural e a força narrativa do cinema brasileiro contemporâneo, que merece ser apreciado em sua complexidade e sem preconceitos.
[Da redação do Movimento PB]
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