Cultura

O Fim do Espetáculo? Maior complexo de cinemas de Portugal fecha metade das salas e expõe crise global do setor

O Fim do Espetáculo? Maior complexo de cinemas de Portugal fecha metade das salas e expõe crise global do setor

Com uma queda de público superior a 50% em uma década, gigante do entretenimento em Portugal aponta “inviabilidade econômica” e acende um alerta que ecoa no Brasil: o que será da experiência de ir ao cinema?

A notícia soa como o apagar melancólico de um projetor. O ArrábidaShopping, em Vila Nova de Gaia, Portugal, que ostenta o título de maior complexo de cinemas do país com 20 salas e mais de quatro mil lugares, anunciou que irá fechar quase metade de sua estrutura. Nove de suas salas de exibição serão desativadas permanentemente, uma decisão drástica que, segundo os proprietários do espaço, se deve a uma dura realidade: a falta de “viabilidade econômica”. O anúncio é um sintoma doloroso de uma crise que transcende as fronteiras portuguesas e atinge em cheio o coração da indústria cinematográfica global, incluindo o Brasil.

Os números por trás da decisão são irrefutáveis e assustadores. Segundo dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) de Portugal, em 2011, o complexo atraiu mais de um milhão de espectadores. Em 2019, antes da pandemia, esse número já havia caído para pouco mais de 830 mil. Em 2024, a realidade foi ainda mais cruel: apenas 460 mil pessoas passaram pelas 20 salas, resultando em uma média desoladora de 19 espectadores por sessão. A matemática, neste caso, é implacável e justifica o fechamento de parte de uma estrutura que se tornou grande demais para a demanda atual.

Este não é um caso isolado, mas a ponta de um iceberg. A Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC) de Portugal revelou que pedidos semelhantes de “desafetação” de salas de cinema estão se tornando comuns em todo o país. A questão que se impõe vai muito além de um simples balanço financeiro; ela toca na essência de uma mudança de comportamento cultural. A ascensão meteórica dos serviços de streaming, acelerada pela pandemia de Covid-19, habituou o público ao conforto e à conveniência de ter um catálogo infinito de filmes no sofá de casa. O ritual de ir ao cinema, com a tela grande, o som imersivo e a experiência coletiva, luta para competir com a praticidade do “play” no controle remoto.

Para nós, no Brasil, a situação portuguesa soa perigosamente familiar. Também aqui vimos redes de cinema fechando portas, especialmente em cidades do interior, e complexos gigantescos operando com uma fração de sua capacidade. A crise exposta em Portugal levanta um debate urgente sobre o futuro do setor. Será que o modelo dos multiplex, com dezenas de salas exibindo os mesmos blockbusters, está com os dias contados? Talvez o caminho para a sobrevivência do cinema não esteja na quantidade, mas na qualidade e na exclusividade da experiência, com salas mais confortáveis, programação curada e eventos que transformem a ida ao cinema em algo mais do que apenas assistir a um filme.

O fechamento de nove salas no maior cinema de Portugal não é apenas uma notícia sobre um negócio que vai mal. É um símbolo poderoso da encruzilhada em que se encontra a sétima arte. Representa o fim de uma era de grandiosidade e o início de uma busca incerta por um novo propósito. O desafio, tanto lá como cá, é reinventar a magia da sala escura, provando que, mesmo na era do streaming, há histórias que só podem ser verdadeiramente vividas quando as luzes se apagam e uma tela gigante se ilumina diante de uma plateia de estranhos unidos pela mesma emoção. A questão não é se o cinema vai morrer, mas como ele precisará se transformar para sobreviver.

Redação do Movimento PB [NMG-OGO-19092025-R4S9T2-13P]


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