Por Paulo Santos • 03 de março de 2025 (Atualizado em 04 de março de 2025, às 10:52)
A reação de milhares de brasileiros após a derrota de Fernanda Torres no Oscar 2025 revelou um traço marcante do nosso povo: passamos de agradáveis a “sem noção” com uma facilidade impressionante. A invasão ao perfil oficial da Academia no Instagram, recheada de ataques pessoais, insinuações e comentários de baixíssimo nível, evidenciou um descontrole emocional típico de quem não sabe lidar com o contraditório.

A frustração com a vitória da atriz americana Mikey Madison na categoria de Melhor Atriz — prêmio que muitos brasileiros davam como certo para Fernanda Torres — rapidamente se transformou em uma enxurrada de ofensas. Entre os comentários mais absurdos, destacou-se a comparação depreciativa: “tinha uma negra, uma trans, uma latina (que deveria ganhar), uma velha e uma BRANCA AMERICANA que não atuou NADA comparado às outras, e adivinhem quem ganhou, RIDÍCULO”. Essa mensagem, além de desrespeitosa, reforça a incapacidade de aceitar que a diversidade deve ser celebrada, mesmo quando o resultado não agrada.
“tinha uma negra, uma trans, uma latina (que deveria ganhar), uma velha e uma BRANCA AMERICANA que não atuou NADA comparado às outras, e adivinhem quem ganhou, RIDÍCULO”. @luoliso
Outro exemplo do surto coletivo foi a acusação sem fundamento de que a Academia teria manipulado o acesso ao post da vencedora: “E esse truque de só deixar aparelhos conectados nos Estados Unidos visualizarem a postagem de melhor atriz, hein? A cara nem treme”. Essa teoria conspiratória reflete um hábito perigoso de justificar derrotas com supostos esquemas ocultos, em vez de simplesmente admitir que, às vezes, se perde.
Essa postura vitimista, somada à agressividade, só reforça o estereótipo de que o brasileiro não sabe perder — o que, convenhamos, parece cada vez mais difícil de contestar.


A ironia mais amarga, porém, está no fato de que os mesmos que exaltavam o filme brasileiro Ainda Estou Aqui pelos alertas sobre os perigos do autoritarismo acabaram reproduzindo justamente esse comportamento ao atacar a Academia por premiar uma atriz diferente da esperada.
A fúria direcionada ao apresentador Conan O’Brien, cuja piada sem graça — apenas um jogo sarcástico com o título do filme e a vida marital do apresentador — foi recebida com uma agressividade desproporcional, é só mais um capítulo desse espetáculo de falta de noção.
Se queremos realmente amadurecer como público e como nação, está na hora de aprender que discordar do resultado de uma premiação não justifica ataques pessoais e teorias da conspiração. Aceitar a derrota faz parte do jogo. Até lá, seguimos dando ao mundo mais motivos para confirmar que o brasileiro, quando perde a compostura, perde feio.
Observação: Os comentários citados neste artigo foram extraídos diretamente da seção de respostas ao perfil oficial da Academia no Instagram. As opiniões expressas por @sczneider, @flaviaavila, @biamiranda_reality, @isabellarollim, @vekazuma e @luoliso refletem exclusivamente a visão de seus autores e foram utilizadas para ilustrar a intensidade das reações dos brasileiros diante do resultado do Oscar.
Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Portal Movimento PB.