Por Paulo Santos • 02 de março de 2025 (Atualizado às 14:30 de 02 de março de 2025)
A 48 horas da cerimônia do Oscar, em Los Angeles, Walter Salles falou à Folha de São Paulo sobre sua visão realista da premiação. O diretor brasileiro, que concorre com um filme baseado na resistência de Eunice Paiva contra um regime opressivo, mostra que entende as dificuldades do processo e prefere destacar a jornada do projeto a depender do resultado. “Eu continuo achando que a pessoa otimista é uma pessoa mal informada”, disse, sugerindo que sabe mais do que muitos apostadores esperam.

Salles reconhece que o Oscar envolve mais do que qualidade cinematográfica: é uma questão de visibilidade e contexto. Ele aponta que o número de pessoas que assistiu ao filme em Los Angeles pode definir o resultado. “Tudo vai depender do número de pessoas, da quantidade de gente que terá visto o filme ou não”, explicou. “E se isso não aconteceu por várias razões, porque as pessoas não tiveram tempo, porque essa é uma cidade que sofreu uma fratura grave com os incêndios, então a gente nunca sabe.” Os incêndios recentes na região, segundo ele, afetaram a rotina local e podem ter reduzido a exposição do filme.

Ele entende como funciona a premiação: os jurados, muitos baseados em Los Angeles, decidem com base no que viram e no que está sendo discutido. Se o filme não alcançou um público significativo ou perdeu espaço por causa de fatores externos, como os incêndios ou a concorrência, as chances diminuem. Mesmo assim, Salles não se prende a isso. Para ele, o valor está no que o projeto já conquistou.
“Foi uma jornada linda, abraçada pelo público com a mesma paixão com que a gente fez o filme”, afirmou, mencionando o livro de Marcelo Rubens Paiva e a história de Eunice Paiva como bases do trabalho. O sucesso, na visão dele, está no impacto do filme e na fidelidade à narrativa, não na decisão dos jurados. “Se vier, veio, se não vier, a viagem foi linda”, disse. “Dessas que a gente não esquecerá nunca.” A frase resume sua postura: o resultado do Oscar é incerto, mas o processo já foi um ganho.
Salles mostra que conhece os bastidores da premiação e os desafios que escapam ao seu controle, como a situação em Los Angeles ou a atenção dos votantes. Em vez de lamentar, ele valoriza o que foi feito. O prêmio seria um reconhecimento extra, mas não o objetivo principal. Enquanto a cidade se organiza para o evento, ele mantém a calma, focado no que já considera uma vitória.
Nota do autor: A entrevista de Salles revela um diretor que vê o Oscar como um jogo de variáveis e aposta no valor do processo, não no troféu. Para mais detalhes, assista à fala completa: https://www.instagram.com/reel/DGqS9_0MEk9/?igsh=enR6aHRqbXFvZGNn.