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O que a reação ao anúncio da Coca-Cola revela sobre a publicidade com AI

O anúncio natalino da Coca-Cola mostra que IA industrializa, mas não substitui o trabalho criativo, gerando rejeição do público e repensando a publicidade.

A recente campanha natalina da Coca-Cola voltou a destacar a crescente presença da inteligência artificial (IA) na publicidade. Ainda que a tecnologia seja apresentada como ferramenta revolucionária para reduzir custos e otimizar recursos, o comercial do ano mostrou que a realidade é mais complexa e revela um paradoxo sobre o futuro da produção de conteúdo.

IA e o mito da redução de pessoal

Ao contrário do que muitos imaginaram, a IA não dispensou a necessidade de uma equipe robusta para a criação do anúncio. Para alcançar o resultado final de apenas 60 segundos, a produção envolveu a geração de cerca de 70.000 vídeos automáticos, além do trabalho dedicado de quase 100 profissionais, entre funcionários da Coca-Cola, da agência WPP e de estúdios especializados em IA. Segundo Jason Zada, da Secret Level, responsável pelo desenvolvimento do projeto, uma equipe direta de 20 pessoas esteve envolvida, número similar ao de uma produção tradicional.

O que mudou, na verdade, foi o tipo de atividade: em vez de semanas dedicadas a modelagem 3D, houve um intenso processo de experimentação, seleção e refinamento de milhares de versões de IA, buscando aquela ideal para o comercial. Isso demonstra que a produção criativa continua exigindo esforço humano significativo, mesmo com tecnologia avançada.

Industrialização do conteúdo: eficiência em escala

Se o custo e o quadro de trabalhadores permaneceram parecidos, onde está a vantagem real? A resposta está na escalabilidade produtiva. A Coca-Cola não buscou apenas economizar, mas multiplicar as versões do comercial. Uma versão estendida de 90 segundos e uma versão personalizada para diferentes regiões do mundo foram produzidas em paralelo, algo quase inviável sem o suporte da IA.

Esse processo significa uma industrialização do conteúdo criativo, permitindo à marca adaptar suas mensagens com rapidez e amplitude, sem depender da criação manual para cada variação. Tal estratégia antecipa uma transformação profunda na publicidade, em que a tecnologia garante múltiplas opções a partir do mesmo orçamento, valorizando a personalização e eficiência.

Rejeição do público: o desafio da autenticidade

No entanto, a reação do público ao comercial não foi positiva. Assim como no anúncio de 2024, que sofreu críticas pela qualidade visual e clichês, a campanha de 2025 com animais antropomorfizados também provocou rejeição online. Essa resistência revela uma desconexão importante: anúncios que exploram tradições e apelos artísticos ainda são muito valorizados pelo toque humano, algo percebido como ausente em vídeos integralmente gerados por IA.

Caso semelhante foi o ocorrido com a Riot Games, que teve um vídeo removido rapidamente após a insatisfação do público. Apesar disso, nem toda produção com IA sofre esse estigma; alguns conteúdos curtos e humorísticos para plataformas como YouTube e TikTok conseguem bom engajamento, principalmente quando assumem um caráter leve e espontâneo.

O futuro da publicidade e produção de conteúdo

O caso da Coca-Cola deixa claro que a inteligência artificial deve ser vista não como substituta do trabalho criativo humano, mas como uma ferramenta para sua potencial industrialização e expansão em escala. As marcas poderão produzir múltiplos conteúdos adaptados simultaneamente, ampliando seu alcance e personalização, sem diminuir o investimento em talentos qualificados.

Por outro lado, o desafio permanece em conquistar a aceitação do público, que ainda valoriza fortemente a autenticidade e a criatividade humana. O equilíbrio entre tecnologia e sensibilidade artística será crucial para que esse novo modelo tenha sucesso real.

A publicidade está, portanto, diante de uma encruzilhada: o futuro exigirá mais do que apenas avançar em recursos automáticos, mas compreender e respeitar o impacto emocional e cultural dos conteúdos. Esse aprendizado ajudará a definir como a IA será integrada com inteligência e criatividade nas narrativas das marcas.


[Da redação do Movimento PB]
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