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Outdoor em São Francisco ironiza a era da inteligência artificial e viraliza com humor sombrio

Campanha falsa da “Replacement.AI” satiriza cultura das big techs e provoca debate sobre limites éticos da automação

São Francisco voltou a ser palco de polêmicas ligadas à tecnologia — desta vez, por causa de outdoors que parecem mais confessionais distópicos do que anúncios publicitários. Os cartazes, que tomaram avenidas e pontos de ônibus da cidade, anunciam uma suposta empresa chamada Replacement.AI com mensagens como: “Nossa IA faz o dever de casa da sua filha. Lê histórias para dormir. Namora ela. Faz deepfakes dela. Não se preocupe, é totalmente legal 😉”.

Ao acessar o site indicado, os visitantes encontram frases ainda mais provocativas, como “Humanos não são mais necessários” e “É hora de uma solução mecânica”. O texto, repleto de ironia, zomba do discurso das startups do Vale do Silício e cita até uma declaração real de Sam Altman, CEO da OpenAI: “A IA provavelmente levará ao fim do mundo, mas, enquanto isso, teremos grandes empresas”.

A peça é, na verdade, uma sátira elaborada. Criada por artistas anônimos, a campanha foi descoberta pelo influenciador Matt Bernstein e rapidamente se espalhou nas redes sociais. Muitos usuários, contudo, acreditaram que se tratava de um anúncio verdadeiro — o que só reforça a crítica embutida: o limite entre ficção e realidade no marketing tecnológico está cada vez mais turvo.

A “Replacement.AI” faz troça direta da mentalidade de executivos que se gabam de substituir trabalhadores humanos por algoritmos. No site falso, há inclusive uma seção “de agradecimento” a artistas substituídos por IA, acompanhada de uma citação autêntica da OpenAI enviada ao governo britânico: “Seria impossível treinar os modelos atuais de IA sem usar material protegido por direitos autorais”.

Vários outdoors semelhantes foram vistos também na Times Square, em Nova York, mostrando o alcance e o investimento por trás da brincadeira. O “CEO” fictício da empresa, um certo “Dan”, tem até perfil no X (antigo Twitter) e um vídeo institucional debochado. Tudo indica que a ação é um protesto artístico bem financiado, que busca escancarar as contradições do discurso de inovação sem ética que domina o setor.

Apesar do tom cômico, a provocação chega num momento tenso. Recentemente, vieram à tona planos da Amazon para substituir mais de meio milhão de empregos em armazéns por robôs — um lembrete de que o futuro automatizado imaginado na sátira pode não estar tão distante.

No fim do site, há um formulário irônico intitulado “Peça um lugar em nosso bunker”. A proposta: enviar um vídeo explicando por que você concorda que humanos merecem ser substituídos — e por que você mereceria uma vaga entre as máquinas.

A ação reacende um debate que deixou de ser apenas filosófico: em um mundo cada vez mais mediado por algoritmos, o que ainda torna o trabalho humano insubstituível?

Traduzido e adaptado de Futurism

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