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Podridão cerebral: IA e redes sociais podem estar acelerando o declínio cognitivo

Podridão cerebral: IA e redes sociais podem estar acelerando o declínio cognitivo
Estudos revelam que o uso excessivo de IA e redes sociais está ligado ao declínio cognitivo e ao baixo desempenho escolar em crianças e jovens.
Nos últimos anos, um fenômeno conhecido como “podridão cerebral” tem sido associado ao impacto crescente da inteligência artificial (IA) e das redes sociais sobre o desempenho cognitivo, especialmente entre jovens e crianças. Estudos recentes indicam que a dependência excessiva de ferramentas como chatbots de IA e plataformas sociais pode comprometer a memória, a concentração e a capacidade crítica, trazendo reflexos preocupantes para a aprendizagem e o desenvolvimento intelectual.

Pesquisa da Wharton School aponta desafios do uso excessivo de IA na aprendizagem

Em 2025, a professora Shiri Melumad, da Wharton School, da Universidade da Pensilvânia, conduziu um experimento envolvendo 250 participantes para avaliar como diferentes formas de obtenção de informação afetam a qualidade de conselhos para um estilo de vida saudável. O grupo que utilizou resumos produzidos por IA gerou orientações genéricas e pouco elaboradas, como “coma alimentos saudáveis” e “durma bastante”. Já aqueles que recorreram à pesquisa tradicional no Google ofereceram recomendações mais detalhadas, que consideravam aspectos físicos, mentais e emocionais.

Melumad destaca sua apreensão diante da tendência crescente de jovens que desconhecem como realizar pesquisas mais aprofundadas sem depender exclusivamente da IA: “Estou preocupada com o fato de os jovens não saberem como fazer uma pesquisa tradicional no Google”.

O papel das redes sociais no declínio do desempenho escolar

A influência negativa das telas estende-se também às redes sociais. Um abrangente estudo publicado na revista JAMA pela Universidade da Califórnia analisou dados do Adolescent Brain Cognitive Development (ABCD), acompanhando mais de 6.500 jovens entre 9 e 13 anos. Os pesquisadores observaram que o aumento do tempo diário nas redes sociais, de uma até três horas ou mais, correlacionou-se com notas inferiores em testes de leitura, vocabulário e memória em comparação com crianças que não utilizavam essas plataformas.

O pediatra Jason Nagata, que liderou o estudo, explica que o uso excessivo desses aplicativos pode reduzir o tempo dedicado a atividades cognitivamente enriquecedoras, como a leitura ou um sono adequado, impactando diretamente a aprendizagem.

Atividade cerebral e retenção: desafios do uso do ChatGPT na escrita

Um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) avaliou os efeitos do ChatGPT na capacidade de escrita e memorização de estudantes universitários. Durante a atividade, sensores indicaram que os usuários do chatbot apresentaram menor atividade cerebral em comparação com quem utilizou pesquisa tradicional ou escreveu sem auxílio.

Além disso, apenas um minuto após a redação, 83% dos usuários do ChatGPT não conseguiram recordar nenhuma parte de seu texto, enquanto estudantes que escreveram sem IA lembraram-se bastante do conteúdo produzido. A pesquisadora Nataliya Kosmyna se preocupa com as consequências para setores onde a retenção do conhecimento é crítica: “Se você não se lembra do que escreveu, não sente propriedade. Você ao menos se importa?”

Como usar IA e redes sociais de forma mais saudável e produtiva

As descobertas ressaltam a necessidade de uma abordagem consciente no uso da tecnologia. Uma estratégia sugerida é iniciar tarefas de pesquisa e escrita de forma autônoma, para então usar as ferramentas de IA para revisão e complementação — assim como um estudante que resolve problemas matemáticos manualmente antes de recorrer à calculadora.

Quanto ao uso de redes sociais, especialistas recomendam limitar o tempo de tela e estabelecer zonas livres de tecnologia, como no quarto ou durante as refeições, para garantir foco nos estudos, qualidade do sono e momentos de interação social saudável.

Melumad destaca que o caminho para o uso mais saudável da IA é evitar a automação completa do processo de pesquisa e aprendizado. Recomenda-se utilizar chatbots para responder perguntas específicas, como datas ou definições, mas reservar leituras profundas para livros e fontes tradicionais.

Reflexos para o futuro da educação e do desenvolvimento cognitivo

O fenômeno da “podridão cerebral” lançou um alerta sobre o impacto da tecnologia no desenvolvimento intelectual, sobretudo entre as novas gerações expostas a conteúdos curtos, superficiais e altamente estimulantes. A questão não reside na antiguidade ou inevitabilidade da inovação, mas no equilíbrio entre aproveitar os recursos digitais e preservar a capacidade crítica, a memória e a motivação para o aprendizado profundo.

Ao reconhecer os riscos e benefícios da inteligência artificial e das redes sociais, educadores, pais e sociedade têm o desafio de promover práticas que fortaleçam a autonomia cognitiva, a curiosidade e a resiliência mental, assegurando que as ferramentas digitais sejam aliadas e não substitutas do pensamento ativo e consciente.


[Da redação do Movimento PB]
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