Por que Procrastinamos? Descubra a Ciência por Trás do Hábito de Adiar Tarefas
Você já se pegou adiando algo importante, mesmo sabendo que isso pode trazer consequências negativas? A procrastinação é um comportamento comum, mas que pode ter impactos graves na saúde, na carreira e nas finanças. Este artigo, uma adaptação da redação original de Bruno Carbinato para a Superinteressante, explora as raízes biológicas da procrastinação, como ela afeta nossas vidas e como podemos combatê-la.
Procrastinação: Um Comportamento Universal
A procrastinação é uma realidade para a maioria das pessoas. Pesquisas entre universitários mostram que até 95% deles admitem procrastinar com frequência. No entanto, procrastinar não é apenas questão de priorizar mal ou ser preguiçoso. O ato de adiar intencionalmente tarefas importantes envolve um conflito interno que vai além da simples desorganização. É um comportamento impulsivo e irracional, que muitas vezes traz sentimentos de ansiedade e culpa.
O termo “procrastinação” vem do latim procrastinare, que significa literalmente “deixar para amanhã”. Esse comportamento é registrado na história há milênios. O poeta grego Hesíodo, por exemplo, já alertava sobre os perigos de adiar tarefas importantes. Ele sugeria que a procrastinação levava a desastres, um pensamento compartilhado por filósofos da Antiguidade que classificaram o hábito como uma forma de akrasia – ações que contradizem o bom senso.
A Biologia da Procrastinação
Embora métodos de gerenciamento de tempo possam ajudar a mitigar os efeitos da procrastinação, a ciência revela que as raízes desse comportamento estão profundamente ligadas ao nosso cérebro. O ser humano não evoluiu para as exigências da vida moderna, como preencher planilhas ou estudar para provas. Em vez disso, grande parte do nosso cérebro, em especial o sistema límbico, é programado para preferir atividades que tragam prazer imediato.
Este sistema límbico, que nos ajudava a sobreviver como caçadores-coletores, busca gratificação instantânea, seja ao comer algo doce ou ao gastar tempo em atividades de lazer. Ao mesmo tempo, o córtex pré-frontal, responsável pelo planejamento e autocontrole, luta para nos manter focados em objetivos de longo prazo. A procrastinação surge desse conflito interno entre o desejo por gratificação imediata e a necessidade de cumprir metas futuras.
Um estudo de 2021 encontrou uma relação entre o tamanho do córtex pré-frontal e a tendência a procrastinar. Pessoas com um volume maior dessa região eram menos propensas a adiar tarefas, enquanto indivíduos com uma amígdala mais desenvolvida, parte do cérebro que responde ao medo e ameaças, tendiam a procrastinar mais .
A procrastinação está mais ligada à gestão das emoções do que ao gerenciamento do tempo.
Procrastinação e Emoções
Segundo especialistas como a psicóloga Fuschia Sirois, da Universidade de Durham, a procrastinação está mais ligada à gestão das emoções do que ao gerenciamento do tempo. Ao adiar tarefas que associamos a sentimentos negativos, estamos, na verdade, evitando essas emoções desconfortáveis. O problema é que essa fuga inicial cria um ciclo de ansiedade e culpa, o que acaba piorando a situação e incentivando ainda mais a procrastinação.
Experimentos com estudantes universitários mostram que, à medida que os alunos procrastinam, a tarefa parece cada vez mais assustadora, criando um “monstro” fictício que só piora com o passar do tempo. No entanto, quando finalmente enfrentam a tarefa, eles percebem que ela não era tão difícil quanto parecia. Esse ciclo emocional cria uma armadilha psicológica que torna cada vez mais difícil iniciar as atividades importantes.
Procrastinação é Genética?
A tendência de procrastinar pode ter uma base genética. Um estudo de 2014 analisou gêmeos idênticos e fraternos e sugeriu que a procrastinação pode ser hereditária em certo grau. A hipótese é que essa predisposição esteja relacionada à dopamina, um neurotransmissor que regula a motivação e o prazer .
Como Vencer a Procrastinação?
Embora o comportamento procrastinador seja profundamente enraizado em nosso cérebro, existem formas de combatê-lo. Métodos de organização do tempo, como a técnica Pomodoro, podem ajudar a dividir tarefas em blocos menores, tornando-as menos assustadoras. Além disso, mudar o foco das emoções negativas e tentar enxergar a tarefa de forma mais positiva pode ser uma maneira eficaz de quebrar o ciclo da procrastinação.
Em vez de focar no quanto a tarefa parece difícil, é importante se concentrar nos pequenos passos e nas recompensas futuras. Com paciência e autoconsciência, é possível superar esse hábito e evitar os impactos negativos que ele pode trazer para a saúde mental, a carreira e a vida pessoal.
A procrastinação, embora comum, não é inofensiva, e compreender suas raízes biológicas e emocionais é o primeiro passo para vencer esse hábito. Além disso, a autocompaixão desempenha um papel crucial. Ao reconhecer o conflito interno entre nossos desejos imediatos e as responsabilidades de longo prazo, podemos desenvolver estratégias eficazes para lidar com a procrastinação e alcançar nossos objetivos com menos estresse e culpa.
Aconselhamos a leitura do artigo original no link abaixo:
https://super.abril.com.br/ciencia/como-vencer-a-procrastinacao-segundo-a-ciencia/