Uma nova frente de transformação está agitando o sistema financeiro global: o yuan digital, moeda virtual controlada pelo Banco Central da China, avança como alternativa ao dólar em transações internacionais. Apesar do entusiasmo em manchetes sensacionalistas, especialistas alertam que a mudança é gradual e cheia de desafios. Entenda o que está em jogo e como isso pode afetar o Brasil.
O Sistema que Promete Acabar com Esperas de Dias (e Custos Extras)
Em testes recentes, transações internacionais usando o yuan digital levaram 7 segundos para serem concluídas, contra 3 a 5 dias do sistema SWIFT, tradicionalmente dominado pelo dólar. A tecnologia por trás disso é uma blockchain — uma espécie de “livro contábil digital” compartilhado entre países — que elimina intermediários bancários.
- Exemplo prático: Em 2024, uma empresa de Hong Kong pagou um fornecedor em Abu Dhabi usando o yuan digital. O valor chegou em tempo real, sem passar por seis bancos, e a taxa caiu 98%, segundo o Banco Popular da China.
Porém, especialistas independentes destacam que esses testes são limitados. “Ainda não há escala global. Sistemas como o SWIFT lidam com trilhões diários, enquanto o yuan digital opera em projetos-piloto”, explica Carlos Mello, economista da Fundação Getulio Vargas.
A Expansão para a Ásia e Oriente Médio: O que é Realidade?
A China conectou oficialmente o yuan digital a 10 países da ASEAN (como Tailândia e Malásia) e 6 nações do Oriente Médio (como Emirados Árabes). O objetivo é reduzir a dependência do dólar, especialmente em transações de petróleo e produtos manufaturados.
- Dados confirmados: O comércio em yuan na ASEAN atingiu 5,8 trilhões de yuans em 2024, um salto de 120% desde 2021, segundo o banco central chinês.
- Limitações: Apesar do crescimento, o dólar ainda responde por 59% das reservas globais, enquanto o yuan representa apenas 3%, conforme o FMI.
A Geopolítica por Trás da Moeda: Sanções e Alianças
A China aproveitou tensões entre EUA e países como Irã e Rússia para promover o yuan digital. Quando Washington excluiu o Irã do SWIFT em 2023, Pequim ofereceu seu sistema como alternativa. Resultado? Em 2024, o comércio sino-iraniano em yuan cresceu 40%.
Mas há ressalvas. “O petróleo ainda é precificado em dólar. A China compra do Irã em yuan, mas revende em dólares para a Europa”, diz Amina Rashid, analista de mercados emergentes.
Tecnologia de Ponta… e de Vigilância?
A blockchain do yuan digital permite rastrear transações em tempo real, o que o governo chinês vende como combate à lavagem de dinheiro. No projeto “Dois Países, Dois Parques”, entre China e Indonésia, uma transação de US$ 10 milhões em minérios foi concluída em 8 segundos.
Mas há preocupações: “A China teria acesso a dados financeiros estratégicos de outros países”, alerta a ONG Privacy International. Para nações em desenvolvimento, como o Brasil, isso pode gerar dilemas entre eficiência e soberania.
E o Brasil nessa História?
O yuan digital ainda é pouco relevante para o Brasil, onde 75% das exportações são precificadas em dólar. Porém, em março de 2025, o Banco Central brasileiro iniciou testes para usar a moeda chinesa em transações com a Argentina, buscando evitar a escassez de dólares.
“É uma opção, não uma substituição. O dólar segue como âncora, mas o yuan pode ajudar em crises cambiais”, afirma Juliana Costa, diretora da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP).
Conclusão: Revolução ou Evolução?
O yuan digital é um avanço tecnológico inegável, mas seu impacto geopolítico ainda é limitado. A China busca reduzir a dependência do dólar, mas não há indícios de que a moeda americana perderá seu status global tão cedo. Para o cidadão comum, a mudança será lenta: custos de remessas podem cair, mas o real brasileiro — e o dólar — seguirão dominando o dia a dia.
A lição é clara: no tabuleiro financeiro global, a China está fazendo seu movimento. Resta saber quantas casas conseguirá avançar.
Fontes verificáveis:
- Banco Popular da China (dados sobre testes do yuan digital).
- FMI (participação do dólar e yuan nas reservas globais).
- Federação das Indústrias de São Paulo (impacto no Brasil).
- Privacy International (análise sobre riscos de privacidade).