A Extorsão de Trump: como ameaça de tarifas ao Brasil para proteger Bolsonaro pode sair pela culatra para os EUA
No futebol, a jogada é conhecida como “gol contra”. Na geopolítica, pode ser o lance que redefine o equilíbrio de poder. O governo brasileiro tenta, sem sucesso, estabelecer um canal de diálogo com Washington antes de 1º de agosto, data limite imposta por Donald Trump para a aplicação de tarifas de 50% sobre todas as exportações brasileiras. A medida, uma clara escalada de pressão, só será evitada se o governo de Luiz Inácio Lula da Silva ceder a duas exigências controversas: abandonar as acusações contra Jair Bolsonaro e adotar uma postura mais branda com as big techs norte-americanas.
Enquanto o Palácio do Planalto se mostra disposto a negociar termos comerciais, a condição envolvendo Bolsonaro é vista como inaceitável. Trata-se de uma interferência direta nos assuntos internos do Brasil, uma violação da soberania nacional e do funcionamento da Justiça, conforme estabelecido pela Constituição de 1988. O cenário está montado para um confronto que prejudicará economicamente ambas as nações e levanta sérias questões sobre a nova ordem global que Trump parece determinado a construir.
O Bumerangue Econômico: Por que a Ameaça não Faz Sentido
Como destacou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a ameaça de Trump carece de lógica econômica. A alegação de que o Brasil estaria explorando os EUA é falsa; na verdade, os Estados Unidos mantêm um superávit comercial com o Brasil há quase duas décadas. Além disso, a interdependência das cadeias produtivas torna a medida um tiro no próprio pé. Um exemplo claro é a Embraer: 45% de cada aeronave comercial exportada para os EUA é composta por peças de fabricação americana, que seriam atingidas por tarifas recíprocas.
O impacto no bolso do consumidor americano seria imediato e severo. Uma tarifa de 50% sobre o suco de laranja brasileiro, que representa 60% das importações americanas, encareceria drasticamente um item básico nos lares do país. O mesmo ocorreria com a carne, o café e outros produtos. A medida também ameaçaria empregos em solo americano, como nas fábricas de engarrafamento de marcas como Tropicana e Minute Maid, grandes importadoras do suco brasileiro. A defesa de Bolsonaro por Trump, portanto, custaria caro ao próprio povo americano.
A Diplomacia como Arma e a Reação Multilateral
A hostilidade atual quebra mais de dois séculos de relações amistosas e exemplifica a política externa de Trump, que, muito mais do que em seu primeiro mandato, está ansioso para transformar tarifas em arma de coerção. Em resposta, o governo brasileiro não se limitou a tentar negociar; buscou amparo na Organização Mundial do Comércio (OMC). Em Genebra, o representante do Brasil denunciou, sem citar nomes, uma “mudança extremamente perigosa no uso de tarifas como ferramenta para interferir nos assuntos internos de outros países”.
A queixa brasileira não foi um ato isolado. Recebeu o apoio de 40 outras nações, incluindo não apenas China e Rússia, mas aliados importantes dos EUA como a União Europeia, Nova Zelândia e Canadá. Embora uma decisão da OMC dificilmente detenha Trump, a articulação diplomática do Brasil demonstra seu compromisso com uma ordem multilateral que Washington agora trabalha ativamente para minar.
O Esvaziamento do Ocidente e a Ascensão dos BRICS
A estratégia de Trump, segundo a análise de Celso Amorim, principal conselheiro de política externa de Lula, é forçar negociações bilaterais em detrimento dos fóruns multilaterais existentes. A curto prazo, isso pode render acordos vantajosos para os EUA. A longo prazo, porém, arrisca-se a erodir permanentemente a ordem global pós-Segunda Guerra, empurrando nações como o Brasil para estruturas alternativas, fora do controle de Washington.
É neste vácuo que os BRICS ganham protagonismo. Para a diplomacia brasileira, o bloco que une Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outras potências do Sul Global é a esperança de um mundo verdadeiramente multilateral. Nas palavras de Amorim, “BRICS é o novo nome para o multilateralismo”. A intenção brasileira não é substituir órgãos como a ONU, mas torná-los mais representativos e duradouros, garantindo ao país uma voz mais ativa na governança global.
“Se você abandonar o julgamento e retirar as acusações [contra Bolsonaro], as tarifas desaparecem”, disse Steve Bannon, ex-conselheiro de Trump, ao New York Times. Questionado sobre como essa abordagem se diferenciava de extorsão, Bannon respondeu simplesmente: “É MAGA, baby… É um admirável mundo novo.”
A aposta de Trump, longe de ser um lance de mestre, revela-se um cálculo míope que pode acelerar o redesenho do poder global. Ao tentar subjugar um parceiro histórico com uma tática que beira a extorsão, Washington arrisca-se a marcar um gol contra decisivo, não no placar econômico de curto prazo, mas no jogo muito mais importante da relevância geopolítica do século XXI.
Da redação do Movimento PB
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