Brasil possui a 2ª maior reserva mundial de terras raras, mas enfrenta desafios tecnológicos para explorar e refinar
Brasil é a 2ª maior reserva mundial de terras raras, mas enfrenta desafios tecnológicos para exploração e refino.
Brasil possui a 2ª maior reserva mundial de terras raras, mas enfrenta desafios tecnológicos para explorar e refinar
O Brasil detém a segunda maior reserva mundial de terras raras, com 21 milhões de toneladas, representando 23% das reservas globais, atrás apenas da China. Esses 17 elementos químicos têm papel fundamental na indústria tecnológica, automotiva e de defesa, além de serem essenciais para a transição energética.
As principais jazidas brasileiras estão distribuídas por Minas Gerais, Goiás, Amazonas, Bahia e Sergipe, com destaque para os municípios de Araxá, Tapira e Minaçu. Apesar da alta disponibilidade dos recursos, o país ainda esbarra na falta de tecnologias próprias para a extração e, principalmente, para o refino, cujo processo químico complexo é dominado pela China, que controla cerca de 90% do mercado global.
Contexto internacional e impacto na negociação
O protagonismo das terras raras aprofundou a tensão comercial entre Estados Unidos e China, que adotaram tarifas e medidas de controle às exportações desses minerais. O presidente Donald Trump destacou sua determinação em reduzir a dependência americana da China, firmando acordos comerciais estratégicos com Austrália, Japão e Ucrânia para garantir o fornecimento. Em outubro de 2025, um acordo temporário estabeleceu uma trégua na guerra comercial, viabilizando a continuidade do fluxo dessas matérias-primas.
Entretanto, o Brasil, apesar de suas reservas expressivas, deverá enfrentar um longo percurso para se consolidar como fornecedor global. A agenda ganhou relevo no país após o reencontro entre Lula e Trump na Malásia, com ações do Conselho Nacional de Política Mineral e negociações entre o Ministério de Minas e Energia e autoridades americanas.
Desafios domésticos para a exploração e refino
Para viabilizar o refino em solo nacional, especialistas projetam um horizonte de quatro a vinte anos devido à complexidade tecnológica e aos entraves regulatórios. Levantar licenças ambientais e desenvolver metodologias próprias para separação e purificação ainda serão desafios significativos. O ambiente legislativo atual não contempla especificidades para a mineração de terras raras e reformulações estão em tramitação no Congresso, como o Projeto de Lei 2780 de 2024, que visa posicionar o Brasil como um player global em minerais para economia verde.
Além disso, está em debate a necessidade de equilibrar soberania, pragmatismo e parceiros estratégicos, considerando os interesses comerciais e políticos, notadamente os aproximados tanto dos EUA quanto da China. O acordo com os americanos pode incluir financiamento e segurança política, enquanto uma parceria chinesa poderia acelerar a transferência tecnológica e capacitação.
Movimentações no setor privado e acadêmico
O setor privado vem reagindo com investimentos significativos. O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) anunciou aportes previstos de US$ 2,17 bilhões entre 2025 e 2029 para projetos de terras raras, um aumento de 49% em relação ao ciclo anterior. Empresas como a australiana St George Mining inauguraram em Araxá um centro tecnológico para pesquisa, em cooperação com o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, com expectativa de transferência para o governo após cinco anos.
O Projeto Araxá, da St George Mining, revelou jazidas com potencial para produzir até 20 mil toneladas anuais de nióbio e terras raras. A CBMM, brasileira e referência mundial em nióbio, opera na região e se destaca pela inovação e desenvolvimento tecnológico.
Perspectivas geopolíticas e econômicas
Apesar do recente acordo entre EUA e China, a volatilidade e a incerteza geopolítica permanecem elevadas. Os Estados Unidos têm reforçado sua busca por fontes alternativas, o que, no curto prazo, pode reduzir a relevância brasileira nesse mercado. No entanto, em médio e longo prazos, o Brasil detém um papel estratégico e não pode se afastar deste debate global.
O professor Fernando Gomes Landgraf, da USP, destaca a relevância do disprósio, elemento fundamental para ímãs potentes usados em motores de carros elétricos, turbinas eólicas e sistemas militares, produtos essenciais para a transição energética e a indústria de defesa.
Especialistas apontam que colocar o tema das terras raras na mesa de negociação com os Estados Unidos não deverá prejudicar, por ora, as relações comerciais e políticas do Brasil com a China. Afinal, o intercâmbio econômico sino-latino-americano cresceu exponencialmente nas últimas décadas, superando US$ 500 bilhões em 2024, conforme dados oficiais.
Assim, a inserção brasileira na cadeia global das terras raras requer decisões estratégicas cuidadosas, investimentos em pesquisa e desenvolvimento, além de um equilíbrio diplomático capaz de garantir soberania nacional e impulsionar o desenvolvimento sustentável do setor mineral.
[Da redação do Movimento PB]
MPB-IA-01112025-0f3a7d21-v19
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