Taxa de 9,18% mantém o país no topo da lista global; política monetária do Banco Central desestimula investimentos, encarece a dívida pública e restringe o crescimento econômico
O Brasil passou a ocupar a primeira posição no ranking mundial de juros reais, segundo levantamento da consultoria MoneYou. O país assumiu o topo da lista após a Argentina reduzir sua taxa básica de 32% para 29%, ficando agora em terceiro lugar. Com essa mudança, o Brasil registra um juro real de 9,18%, considerando a Selic em 13,25% ao ano e a inflação projetada para os próximos 12 meses.
Para o PT, essa situação reflete uma estratégia de política monetária excessivamente rígida adotada pelo Banco Central desde setembro de 2024. Desde então, o Comitê de Política Monetária (Copom) implementou quatro aumentos consecutivos na taxa básica, elevando-a de 10,5% para 13,25%. O objetivo declarado da autoridade monetária é conter a inflação, mas há questionamentos sobre a real necessidade de uma Selic tão elevada, principalmente diante do atual cenário econômico.
O que são juros reais e por que importam?
A taxa de juros real é calculada subtraindo a inflação projetada da taxa de juros nominal. No caso do Brasil, com a Selic fixada em 13,25% e a inflação esperada em 5,5%, o resultado é um juro real de 9,18%. Esse índice tem impacto direto sobre o custo do crédito e sobre a rentabilidade dos investimentos.
Atualmente, o Brasil lidera o ranking global, seguido de perto pela Rússia (8,91%) e pela Argentina (6,14%). Enquanto o país europeu enfrenta desafios econômicos decorrentes da guerra e a Argentina busca reverter um quadro de hiperinflação com redução da taxa básica, o Brasil mantém os juros elevados mesmo com a inflação sob controle.
Os efeitos negativos dos juros elevados
O PT alerta para as consequências prejudiciais da manutenção de juros altos. Para o setor produtivo, a elevação do custo do crédito torna mais difícil a realização de investimentos, freando o crescimento empresarial e prejudicando principalmente pequenos e médios negócios, que dependem de financiamento para operar e expandir.
No setor público, os juros elevados aumentam o encargo da dívida nacional. Em 2024, o gasto com pagamento de juros atingiu R$ 950,4 bilhões (8,05% do PIB), um aumento de R$ 232,1 bilhões em relação ao ano anterior. Esse cenário reduz a margem do governo para destinar recursos a áreas fundamentais como infraestrutura, saúde e educação.
Para os consumidores, os impactos também são evidentes. O crédito mais caro afeta financiamentos, empréstimos e o uso de cartões, comprometendo o poder de compra das famílias e reduzindo o consumo, o que, por sua vez, desacelera a economia.
Inflação controlada não justifica Selic elevada
Embora o Banco Central justifique sua postura com o argumento de que é necessário conter a inflação, o PT e diversos economistas consideram a taxa de juros excessiva e desproporcional ao atual cenário inflacionário.
O economista Jason Vieira, da MoneYou, ressalta que essa política reflete uma preocupação com o equilíbrio fiscal e as expectativas inflacionárias, mas pondera que o custo dessa estratégia pode ser maior do que seus benefícios. Em um momento em que a economia necessita de estímulo para crescer, a manutenção da Selic elevada pode agravar desafios estruturais.
Autonomia do Banco Central e seus efeitos
Desde que conquistou autonomia em 2021, o Banco Central passou a ter maior independência na condução da política monetária. Entretanto, o PT avalia que essa autonomia deve ser usada para equilibrar o controle da inflação e o desenvolvimento econômico, algo que não tem ocorrido.
A presidenta do partido, Gleisi Hoffmann, criticou a manutenção de juros elevados, destacando que o Brasil está em trajetória de crescimento e ampliando a geração de empregos, enquanto realiza um dos maiores esforços fiscais do mundo. Segundo ela, a decisão do BC não encontra respaldo nos fundamentos da economia real e prejudica o país ao encarecer a dívida pública e restringir o consumo e o investimento.
“O novo aumento da taxa básica de juros, já determinado desde dezembro pela direção anterior do Banco Central e anunciado hoje, é péssimo para o país e não encontra qualquer explicação nos fundamentos da economia real. Vai tornar mais cara a conta da dívida pública, sufocar as oportunidades de crescimento e ampliar o custo do crédito para famílias e empresas.” — escreveu Gleisi Hoffmann em suas redes sociais.
Necessidade de equilíbrio na política monetária
Com a taxa Selic elevada, o Brasil se torna atrativo para investidores estrangeiros interessados em alta rentabilidade na renda fixa, mas esse benefício vem acompanhado de um custo significativo para a economia nacional.
O PT defende que a política monetária seja revista para evitar que o país continue refém de juros proibitivos que inibem investimentos, enfraquecem a produção nacional e impactam negativamente o emprego e a renda. A sigla reforça a necessidade de uma abordagem equilibrada que contemple tanto o controle da inflação quanto a promoção do crescimento econômico.
Enquanto essa mudança não ocorre, empresas, trabalhadores e consumidores seguem enfrentando as dificuldades impostas por uma taxa de juros que, segundo especialistas alinhados à visão do partido, já não se justifica diante da realidade econômica do país.
Da Redação com informações de pt.org.br