Brasil reforça integração global como estratégia para assegurar autonomia na era Trump
Brasil reforça integração global para proteger autonomia diante das tarifas de Trump e pressões externas na política comercial.
Brasil reforça integração global como estratégia para assegurar autonomia na era Trump
O Palácio Presidencial do Brasil, projetado por Oscar Niemeyer para simbolizar uma soberania tranquila e equilibrada, convive com tensões internas e pressões externas que desafiam essa imagem. Em 2023, a invocação a velhas tensões ficou evidente quando apoiadores de Jair Bolsonaro, ex-presidente de direita extrema, invadiram seus portões. Paralelamente, o país sofreu interferências políticas via economias globais, como as tarifas de 50% impostas pelo então presidente Donald Trump, reagindo contra o processo judicial contra Bolsonaro.
Pressões externas e a fragilidade das instituições multilaterais
Em julho de 2023, Trump ignorou a regra fundamental do sistema comercial internacional — a não discriminação — usando tarifas como instrumentos de pressão política. Países diversos foram afetados: a Índia por causa do petróleo russo, a União Europeia por seus padrões sanitários, o Canadá por medidas tributárias digitais e o Brasil pelo processo aberto contra Bolsonaro.
Diante do enfraquecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC), tradicional árbitro dos conflitos comerciais, o Brasil viu sua resposta institucional limitada. Apesar de permanecer ativo no sistema de litígios da OMC — sendo o quarto país que mais apresenta reclamações — o país reconheceu a necessidade de uma estratégia que superasse a vulnerabilidade institucional internacional.
Integração econômica como escudo à autonomia nacional
Celso Amorim, assessor próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sintetiza a postura atual como “uma vacina contra movimentos arbitrários de qualquer potência”. Essa estratégia se alinha à visão de Albert Hirschman, que via na diversificação das parcerias comerciais um caminho para diluir pressões externas e, assim, manter a independência decisória.
Lula, que em seus primeiros mandatos adotou políticas protecionistas para proteger setores internos, hoje promove uma abertura comercial vigorosa. Entre as iniciativas mais relevantes estão os acordos recentes com a Associação Europeia de Livre Comércio e os Emirados Árabes Unidos, além das negociações em curso com Canadá, Índia, Japão e México.
Um marco significativo é o avanço da ratificação do acordo entre o Mercosul, liderado pelo Brasil, e a União Europeia após 25 anos de negociações. Não se trata somente de abrir mercados, mas também de garantir reformas internas que promovem maior transparência, estabilidade regulatória e convergência com padrões ambientais e trabalhistas europeus — medidas que fortalecem a previsibilidade e a confiabilidade comercial do Brasil.
Repercussões e o futuro da soberania na economia global
Esses acordos, além de ampliar mercados, impõem uma liberalização institucional que pode representar um legado duradouro das tarifas impositivas dos EUA. A comparação histórica à adesão da Espanha e da Polônia à União Europeia mostra como a inserção em blocos comerciais acaba por ancorar reformas políticas e econômicas essenciais para democracias consolidadas.
Esse fenômeno não é exclusivo do Brasil. Potências médias como Índia, Indonésia e México também adotam a abertura econômica como forma de garantir sua autonomia frente a potências hegemônicas. Assim, a integração deixa de ser percebida como ameaça à soberania e transforma-se em sua maior proteção.
O caso brasileiro indica uma lição clara: num mundo onde atores globais podem usar instrumentos comerciais para coagir, a independência real depende de uma rede ampla e diversificada de relações econômicas, que dificulta e dilui tentativas de imposição unilateral.
[Da redação do Movimento PB]
MPB-TEC-26062024-0F9D3E4A-V19
