Brasil retoma importação de energia da Venezuela apesar de pendências

Brasil inicia importação de energia da Venezuela para Roraima, mas volumes ficam abaixo do previsto e falhas técnicas desafiam operação.

O Brasil deu início ao intercâmbio energético com a Venezuela em 14 de fevereiro, conforme dados do Informativo Preliminar Diário de Operação (IPDO) do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A operação, que utiliza a linha de transmissão Boa Vista/Santa Elena em 230 kV, conecta o sistema de Roraima ao sistema venezuelano, viabilizando a importação comercial de energia. No primeiro dia, foram planejados 10 megawatts (MW), mas apenas 6 MW foram efetivamente entregues.

A retomada ocorre mesmo após o ONS ter apontado a necessidade de mais informações das autoridades venezuelanas para assegurar a operação. Em janeiro, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) autorizou testes e a importação pela Bolt Energy Comercializadora de Energia para suprir Roraima, estado isolado do Sistema Interligado Nacional (SIN). Contudo, os estudos preliminares se prolongaram além do esperado, gerando cautela antes do início das atividades.

No sábado, 15 de fevereiro, o plano era importar 15 MW, mas o volume ficou em 7 MW. O desempenho abaixo do projetado pode estar ligado a falhas técnicas. Às 16h16, a linha Boa Vista/Santa Elena foi desligada, coincidindo com a interrupção da usina termelétrica Jaguatirica II, que gerava 67 MW. O incidente resultou na perda de 103 MW, equivalente a 65% da carga de Roraima. Às 16h31, os 60 MW restantes também foram afetados. A recomposição começou às 16h52 e terminou às 17h50. Já no domingo, 16, dos 15 MW programados, apenas 9 MW foram importados, sem registros de problemas.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou, em 18 de fevereiro, o uso de R$ 41,24 milhões da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) para custear a importação entre janeiro e abril. A CCC, com orçamento anual de R$ 10,3 bilhões, subsidia a geração termelétrica em regiões desconectadas do SIN, como Roraima. A energia, adquirida por R$ 1.096,11 por megawatt-hora (MWh), é fornecida pela Bolt Energy. Em 2024, a Aneel havia liberado R$ 17,08 milhões para a Âmbar Energia realizar a mesma operação, mas os testes não foram concluídos, e o acordo não avançou.

Segundo o ONS, a importação visa “a redução dos custos de operação e a elevação da segurança e da confiabilidade do atendimento aos consumidores de Roraima”. A estimativa é de uma economia diária de até R$ 500 mil com a compra de 15 MW, dependendo da demanda local. Apesar disso, o ONS optou por não comentar os primeiros dias da operação quando procurado.

A parceria energética entre Brasil e Venezuela reflete um esforço para atender às necessidades de Roraima, mas os desafios iniciais, como volumes abaixo do esperado e instabilidades na transmissão, indicam que ajustes ainda são necessários. A interligação, que começou discretamente, marca um passo na cooperação entre os dois países, embora as pendências levantadas pelo ONS continuem sem resolução pública.

Texto adaptado de Estadão Conteúdo e revisado pela nossa redação.

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