Economia

Carros elétricos chineses: a estratégia por trás da invasão global

A vantagem competitiva da China

Marcas de carros que até pouco tempo eram desconhecidas no Ocidente, como BYD, Nio e Zeekr, estão rapidamente se tornando protagonistas no mercado global de veículos elétricos (VEs). O avanço chinês, impulsionado por carros de alta qualidade e preços surpreendentemente baixos, como o novo BYD Dolphin Surf, está desafiando o domínio histórico das montadoras europeias e americanas e forçando uma reação enérgica de governos ocidentais.

A ascensão da China não foi um acaso. Ela é fruto de um plano de longo prazo do governo, iniciado em 2015 com a iniciativa “Made in China 2025”, que injetou financiamento estatal generoso e estabeleceu as bases para o crescimento de gigantes como a BYD. Isso, combinado com baixos custos de mão de obra e um controle massivo da cadeia de suprimentos de baterias, deu às empresas chinesas uma enorme vantagem de custo, estimada em até 25% em comparação com seus concorrentes ocidentais.

A reação do ocidente: tarifas e protecionismo

A preocupação de que as importações de VEs chineses pudessem inundar os mercados e levar a um “evento de extinção” para a indústria local levou a medidas drásticas. O governo Biden, nos Estados Unidos, agiu de forma contundente, aumentando as tarifas de importação sobre veículos elétricos fabricados na China de 25% para 100%, efetivamente bloqueando sua entrada no mercado americano.

A União Europeia seguiu um caminho semelhante, embora menos extremo, impondo tarifas extras de até 35,3% sobre os carros elétricos chineses. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, justificou a medida afirmando que os “enormes subsídios estatais” para as empresas chinesas estavam distorcendo o mercado. Pequim, por sua vez, condenou as ações, classificando-as como “protecionismo descarado”.

Ameaça à segurança ou alarmismo?

Além da disputa econômica, outra preocupação tem ganhado força no Ocidente: a segurança. Como os carros modernos são cada vez mais conectados à internet e repletos de sensores e câmeras, surgiram temores de que veículos de fabricação chinesa poderiam ser usados para espionagem ou até mesmo serem desativados remotamente em caso de um conflito geopolítico.

Autoridades de inteligência no Reino Unido e nos EUA já expressaram essas preocupações, com alegações de que carros com componentes chineses foram banidos de instalações militares sensíveis. No entanto, o governo chinês e as empresas negam veementemente tais acusações, afirmando que não há nenhuma evidência que apoie a ideia de que seus veículos representam uma ameaça à segurança. Especialistas em defesa também argumentam que as montadoras chinesas não querem prejudicar sua capacidade de exportação ao serem vistas como um risco.

O futuro inevitável da indústria automotiva

Apesar das tarifas e das preocupações com a segurança, a presença chinesa na indústria automotiva global parece ser um caminho sem volta. As montadoras europeias, como a Renault, estão correndo para se modernizar, adotando técnicas de produção mais eficientes, semelhantes às chinesas, e investindo em “polos” de veículos elétricos para tentar competir em preço e escala.

A realidade é que a cadeia de suprimentos global já é profundamente interligada. “Mesmo que você tenha um carro fabricado na Alemanha, ele provavelmente contém alguns componentes chineses”, afirmam analistas. Para o consumidor, a chegada de mais concorrentes significa mais opções e preços potencialmente mais baixos. Para a indústria, representa o maior desafio em um século. A China, como afirmou um especialista, “vai ser uma grande parte do futuro” automotivo, e o resto do mundo terá que se adaptar a essa nova realidade.

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