China compra 70% do Porto de Açu e levanta alerta sobre soberania brasileira
China adquire 70% do Porto de Açu, que exporta 30% do petróleo brasileiro, gerando preocupações sobre soberania e controle de infraestrutura estratégica.
A estatal chinesa China Merchants Port Holdings (CMPORT) adquiriu 70% da Vast Infraestructura, controladora do Terminal de Petróleo do Porto de Açu, no Rio de Janeiro, responsável por cerca de 30% das exportações de petróleo do Brasil. A transação, confirmada pela Prumo Logística em 11 de junho de 2025, conforme noticiado pelo Click Petróleo e Gás, intensifica a presença chinesa em ativos estratégicos brasileiros e reacende debates sobre soberania nacional e segurança energética.
Detalhes da aquisição
A CMPORT, braço da gigante estatal China Merchants Group (CMG), comprou a participação majoritária da Vast Infraestructura, uma subsidiária da Prumo Logística, que opera o terminal desde 2014. O Porto de Açu, com 130 km², é o maior complexo portuário da América Latina e movimentou 84,6 milhões de toneladas em 2023, sendo 40% das exportações nacionais de petróleo. O terminal de petróleo é crucial, lidando com quase um terço do crude brasileiro, essencial para o mercado global. A transação, cujos valores não foram divulgados, faz parte da estratégia chinesa de consolidar influência em portos sul-americanos.
Estratégia chinesa na região
A compra não é isolada. A CMPORT já controla o Terminal de Contêineres de Paranaguá desde 2018 e participa de projetos no Porto de Santos e no Maranhão. O professor Marcos Pedlowski, da UENF, alerta que esses investimentos seguem um padrão de “sinicização” da infraestrutura portuária, como visto no porto de Chancay, no Peru, inaugurado em 2024. “A China busca controle de ativos estratégicos para ganhar barganha geopolítica”, afirmou Pedlowski ao Diálogo. Ele destaca riscos à soberania, já que o Porto de Açu enfrenta dificuldades de fiscalização, e o controle chinês pode restringir ainda mais o monitoramento.
Preocupações com soberania
A aquisição gerou alarme entre especialistas e nas redes sociais. Postagens no X, como as de @Henri_RJ e @brasil247, apontam temores de que o Brasil perca autonomia sobre ativos críticos, comparando o caso à compra de reservas de urânio pela China anos atrás. O exemplo do porto de Hambantota, no Sri Lanka, onde a CMG assumiu 80% do controle após inadimplência de empréstimos chineses, ilustra a “diplomacia da armadilha da dívida”. Em 2022, Hambantota recebeu um navio militar chinês, sugerindo usos estratégicos além do comercial. Pedlowski adverte que a CMPORT pode limitar a transparência nas operações do Açu, dificultando o controle nacional.
Contexto do Porto de Açu
Administrado pela Prumo Logística, o Porto de Açu é 100% privado e integra 13 empresas, incluindo terminais de petróleo, minério e energia renovável. Em janeiro de 2025, a Prumo anunciou R$ 22 bilhões em investimentos até 2035, visando descarbonização e hidrogênio verde, com o CEO Rogério Zampronha chamando-o de “porto da transição energética”. A relação com a China não é nova: desde 2019, o porto mantém parceria com o porto de Guangzhou, quinto maior do mundo, para compartilhar tecnologia e atrair investimentos.
Implicações econômicas e geopolíticas
A entrada da China no Açu reforça sua influência na América do Sul, parte da Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative), que inclui investimentos em energia, ferrovias e mineração no Brasil. A China, maior importador de petróleo do mundo, já compra 324 milhões de barris anuais de países como Irã e Venezuela, driblando sanções dos EUA, e vê o Brasil como fornecedor estratégico. No entanto, a dependência de estatais chinesas levanta questões sobre autonomia. “A sinicização pode criar dependência econômica e reduzir o poder de negociação do Brasil”, alerta Pedlowski.
Perspectivas futuras
A transação aguarda aprovação regulatória, mas já provoca debates no Congresso sobre limites à participação estrangeira em setores estratégicos. A Prumo destaca benefícios econômicos, como maior eficiência e novos contratos globais, mas críticos pedem maior fiscalização da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e da Marinha. O caso pode influenciar negociações de outros projetos, como a ferrovia transoceânica de US$ 100 bilhões, que conectará Brasil e Peru. Enquanto a China fortalece sua presença, o Brasil enfrenta o desafio de equilibrar investimentos estrangeiros com a proteção de sua soberania.
Redação Com informações de Click Petróleo