É pouco provável que a China ceda às pressões dos Estados Unidos em meio ao agravamento das tensões comerciais entre os dois países, de acordo com análise do Bank of America (BofA). A instituição afirma que a tendência é que Pequim mantenha a estratégia de “retaliar, estimular e negociar”, especialmente após os EUA imporem uma tarifa de 104% sobre produtos chineses.
Segundo Helen Qiao, economista-chefe do BofA para a China e Ásia, os formuladores de políticas em Pequim veem as medidas tarifárias dos EUA como imprevisíveis. Isso reduz as chances de qualquer acordo significativo no curto prazo. “No máximo, seria um acerto pequeno e temporário, com risco real de novas tarifas sendo aplicadas em breve”, afirmou.
Reportagens recentes apontam que a retaliação chinesa pode ir além do campo tarifário. Estão em avaliação ações como o aumento de tarifas sobre produtos agrícolas, proibição da importação de carne de frango dos EUA, suspensão de cooperação bilateral sobre o fentanil, restrições ao setor de serviços, bloqueio à entrada de filmes americanos no país e investigações sobre lucros de propriedade intelectual obtidos por empresas norte-americanas em território chinês.
Caso essas medidas sejam adotadas, há o risco de novos aumentos tarifários por parte dos EUA. No entanto, o impacto adicional sobre o comércio bilateral seria limitado, uma vez que os danos mais severos já teriam ocorrido, segundo Qiao.
Diante desse cenário, a expectativa é que os investidores passem a observar com atenção os esforços de estímulo econômico por parte do governo chinês. Qiao prevê que o Banco Popular da China adote medidas de afrouxamento monetário, como a redução do depósito compulsório dos bancos (RRR) e dois cortes nas taxas de juros.
Além disso, a economista projeta um aumento dos gastos públicos e um pacote de estímulos fiscais com foco em ampliar o consumo e os investimentos. Esse plano poderá ser divulgado ao final de abril, durante a reunião do Politburo chinês.
No que diz respeito às negociações, a China pode priorizar Acordos de Livre Comércio (FTAs) com outros parceiros antes de retomar conversas com a Casa Branca. A visita do presidente Xi Jinping a países da ASEAN e os contatos recentes entre o premiê Li Keqiang e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sinalizam o esforço chinês para diversificar suas relações comerciais.
“A China deve ampliar o acesso ao seu mercado para outros países como forma de preservar sua posição no comércio global”, concluiu Qiao.
Por fim, Qiao orienta os investidores a acompanharem a taxa de câmbio diária do iuane frente ao dólar e as coletivas de imprensa de ministérios chineses, que podem indicar uma mudança na estratégia econômica — favorecendo a demanda interna em detrimento da estabilidade cambial.
Com informações de Investing.com