Premiê Li Qiang apresenta metas ambiciosas no Congresso Nacional do Povo, destacando o consumo como motor econômico em meio a desafios globais.
A China reafirmou sua meta de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em cerca de 5% para 2025, apostando no consumo interno como principal impulsionador da economia. O objetivo foi anunciado pelo premiê Li Qiang durante a abertura das “Duas Sessões” — evento anual que reúne a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e a Assembleia Popular Nacional (APN) —, realizada na quarta-feira (5), no Grande Palácio do Povo, em Pequim. Diante de 2.893 deputados, Li apresentou o relatório de trabalho do governo, delineando estratégias para enfrentar um cenário de tensões comerciais com os EUA e uma desaceleração imobiliária persistente.
Consumo como Prioridade
Alinhado às diretrizes recentes do Partido Comunista da China (PCCh), o relatório coloca o fortalecimento do consumo doméstico como “a principal força motriz e âncora estabilizadora” para o crescimento em 2025. Entre as medidas destacadas, está a emissão de títulos especiais “ultralongos” do tesouro, no valor de 300 bilhões de yuans (R$ 243 bilhões), para financiar programas de troca de bens de consumo — como carros e eletrodomésticos —, oferecendo subsídios e incentivos fiscais. “Queremos aumentar o emprego e o poder de compra, especialmente para os grupos de renda média e baixa”, afirmou Li, sinalizando um esforço para reverter a queda de 7,1% para 3,4% no crescimento das vendas no varejo entre 2023 e 2024.
O governo também planeja atrair consumo estrangeiro, refinando políticas de lojas duty-free e desenvolvendo centros de consumo internacional em grandes cidades. A meta reflete uma tentativa de compensar a pressão sobre as exportações, afetadas por tarifas americanas que subiram para 20% em 2025, conforme anunciado por Donald Trump.
Metas e Cifras
Além do PIB, o relatório fixou objetivos socioeconômicos: criar mais de 12 milhões de empregos urbanos, manter a taxa de desemprego em 5,5% e limitar o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) a 2% — o menor em duas décadas, ante 3% em anos anteriores, reconhecendo a inflação de apenas 0,2% em 2024. A produção de cereais, que atingiu 700 milhões de toneladas em 2024, será mantida como meta. Para sustentar essas ambições, o déficit orçamentário foi elevado de 3% para 4% do PIB, o maior desde 2010, complementado por 4,4 trilhões de yuans em títulos locais.
Revitalização Rural e Disparidades Regionais
O combate à pobreza, declarado concluído em 2020, entra em sua fase final de consolidação sob o plano de “revitalização rural”. Li enfatizou o suporte a populações realocadas de áreas inóspitas e a cooperação leste-oeste, incentivando a compra de produtos de regiões menos desenvolvidas, como o oeste do país, que abriga 25% a 30% da população e enfrenta desafios como terrenos montanhosos e PIB per capita inferior. “Vamos analisar a eficácia dessas políticas para refinar a assistência pós-transição em 2026”, disse o premiê.
Fim do 14º Plano Quinquenal
2025 marca o encerramento do 14º Plano Quinquenal, período em que a China consolidou sua “sociedade moderadamente próspera”. O próximo plano será elaborado este ano, mas a terceira sessão plenária do 20º Comitê Central do PCCh, em agosto de 2024, já traçou mais de 300 metas para a “modernização socialista” até 2029. A atual sessão da APN, terceira do 14º mandato (2023-2028), reúne 2.893 dos 2.929 deputados e segue até hoje (11).
Desafios e Perspectivas
A meta de 5% é vista como desafiadora. Analistas como Tao Chuan, da Soochow Securities, apontam que a base de cálculo mais alta de 2024 (5%) e os ventos contrários — tarifas dos EUA, crise imobiliária e dívida local — exigirão “trabalho árduo”, como admitiu Li. Posts no X refletem otimismo cauteloso: “China sinaliza confiança com 5%”, escreveu @ChinaDaily, enquanto
@infomoney destacou a tensão comercial como obstáculo. A ênfase no consumo, porém, sugere uma mudança de um modelo exportador para um mais interno — um teste crucial para a segunda maior economia do mundo.