China precisa de reformas para focar no consumo, alertam economistas
O esgotamento do modelo tradicional de crescimento
O motor da economia chinesa, que por décadas funcionou com base em investimentos massivos em infraestrutura e em um volume colossal de exportações, está mostrando sinais de esgotamento. Diante de uma crise no setor imobiliário, do endividamento de governos locais e de uma demanda global mais fraca, um coro de economistas alerta que a China precisa urgentemente mudar seu foco. A solução, segundo eles, passa por reformas estruturais profundas para estimular o consumo interno e torná-lo o novo pilar do crescimento.
A discussão, que ganhou força em recentes fóruns econômicos, aponta que sem uma mudança de rota, a segunda maior economia do mundo corre o risco de cair em um período de estagnação, com sérias consequências para o cenário global. O desafio é convencer o governo a abandonar uma fórmula que foi bem-sucedida por muito tempo, mas que agora parece ter chegado ao seu limite.
Por que o consumidor chinês não gasta mais?
Apesar da imagem de um país com uma classe média em ascensão, o consumo das famílias chinesas como proporção do PIB ainda é relativamente baixo em comparação com outras grandes economias. Isso não acontece por falta de renda, mas sim por um comportamento de poupança excessiva. A razão para isso, segundo os economistas, está na fragilidade da rede de proteção social do país.
Com um sistema de saúde público sobrecarregado, uma previdência social com cobertura limitada e um seguro-desemprego modesto, as famílias chinesas sentem a necessidade de economizar grandes quantias de dinheiro para se precaver contra imprevistos, como uma doença grave na família ou a perda do emprego. Esse “colchão de segurança” individual acaba freando o consumo.
As reformas estruturais necessárias
Para que os cidadãos chineses se sintam seguros para gastar mais e poupar menos, os especialistas defendem que o governo precisa investir pesado na construção de uma rede de proteção social robusta. As principais reformas recomendadas incluem:
- Fortalecimento do Sistema de Saúde: Aumentar o investimento público em hospitais e reduzir os custos que as famílias precisam pagar do próprio bolso por tratamentos.
- Ampliação da Previdência Social: Garantir um sistema de aposentadorias mais abrangente e com benefícios maiores, diminuindo a necessidade de poupança para a velhice.
- Criação de um Seguro-Desemprego Eficaz: Implementar um sistema que ofereça um suporte financeiro mais significativo para trabalhadores que perdem o emprego.
- Reforma no Sistema de Residência (“Hukou”): Facilitar o acesso de migrantes rurais aos serviços públicos nas grandes cidades onde trabalham, permitindo que eles se integrem plenamente à economia urbana.
O desafio de mudar o rumo da economia
Mudar o foco de um modelo baseado em investimento e produção para um modelo liderado pelo consumo é um desafio monumental. Exige uma realocação de trilhões de dólares do setor de construção e da indústria pesada para o setor de serviços e para os bolsos dos cidadãos. Essa mudança enfrenta a resistência de poderosos interesses locais e de uma burocracia acostumada a medir o sucesso pelo número de pontes e ferrovias construídas.
No entanto, o consenso entre muitos economistas é que não há alternativa. Para garantir um crescimento sustentável e de maior qualidade no futuro, a China precisará confiar menos em seus guindastes e mais no poder de compra de seus 1,4 bilhão de consumidores. A questão é se o governo terá a vontade política para implementar as reformas profundas necessárias para destravar esse potencial.