Economia

China transforma criação de pombos em gigante agroindustrial com 600 milhões de aves

China transforma criação de pombos em gigante agroindustrial com 600 milhões de aves

Com manejo padronizado e foco em exportação, setor deixa o caráter de nicho tradicional para se tornar uma potência de proteína animal baseada em eficiência logística.

A China consolidou-se como o maior produtor e consumidor mundial de carne de pombo, transformando uma atividade historicamente ligada a tradições locais em um complexo agroindustrial de alta escala. Com um rebanho estimado em 600 milhões de aves anuais, o setor opera agora sob uma lógica de agronegócio rigorosa, distanciando-se das pequenas criações familiares para ocupar granjas que abrigam de 10 mil a mais de 500 mil animais por unidade.

Essa mudança estrutural, concentrada principalmente nas províncias de Guangdong, Jiangsu, Hubei e Fujian, reflete uma estratégia de segurança alimentar e diversificação econômica. O modelo chinês integra tecnologia de automação básica com um controle sanitário rígido, visando não apenas o imenso mercado interno, mas também a exportação para países asiáticos vizinhos e para o Oriente Médio.

Eficiência através da padronização

Diferente de outras cadeias de proteína que apostam em robótica avançada, o sucesso das fazendas de pombos reside na organização logística e manejo preciso. Os galpões utilizam sistemas de gaiolas empilhadas em múltiplos níveis, otimizando o espaço físico e permitindo o controle automatizado de temperatura, alimentação e coleta de resíduos.

O sistema opera com fluxos de trabalho repetíveis: esteiras automáticas distribuem ração e água, enquanto cronogramas estritos regem a limpeza e a coleta das aves. Essa previsibilidade industrial é essencial para manter os custos controlados e garantir a padronização das carcaças, exigência fundamental dos importadores internacionais.

O ciclo biológico acelerado

O coração econômico desse modelo é a taxa de reprodução. Um casal de pombos pode gerar de 10 a 12 ninhadas por ano. O diferencial biológico explorado pelos produtores é o “leite de papo” — uma secreção altamente nutritiva produzida pelos pais e regurgitada para os filhotes.

Graças a essa alimentação natural rica em proteínas, os pombos jovens ganham peso de forma explosiva, aumentando de tamanho entre seis a oito vezes em apenas quatro semanas. Para a indústria, isso representa ciclos curtos de produção e alta rotatividade de lotes, superando em velocidade algumas fases da avicultura tradicional de frangos.

Processamento e rastreabilidade

A industrialização se estende ao abate. As linhas de processamento seguem padrões sanitários que incluem atordoamento, sangria controlada e evisceração mecanizada, com aproveitamento de órgãos como coração e fígado, valorizados na culinária local. O produto final é embalado a vácuo, recebendo códigos de rastreio que permitem acompanhar a ave da granja ao supermercado.

Este modelo revela como a China tem utilizado a escala industrial para transformar espécies “invisíveis” nas estatísticas globais em ativos econômicos robustos, combinando conhecimento tradicional biológico com eficiência fabril para atender à crescente demanda mundial por proteínas diversificadas.

Adaptado de Click Petróleo e Gás, pela redação do Movimento PB. [MOV-PB-21112025-E9F1A2C-V18.2]