Queda reflete pressão de preços de alimentos e endividamento, apesar de leve alta no comércio digital.
O varejo brasileiro registrou uma queda de 0,9% em fevereiro de 2025 na comparação com janeiro, conforme o Índice do Varejo Stone (IVS), divulgado nesta quinta-feira (13) pela StoneCo. O resultado reverte a alta de 2,8% observada em janeiro e mostra um crescimento tímido de 1% ante fevereiro de 2024. Segundo Matheus Calvelli, pesquisador econômico da Stone, “a alta no preço dos alimentos continua pesando no bolso das famílias, que já enfrentam um alto nível de endividamento”, impactando diretamente o consumo.
Contrastes entre Físico e Digital
O comércio físico liderou a retração, com uma queda de 1,6%, enquanto o digital apresentou um leve crescimento de 0,4%. A disparidade reflete mudanças no comportamento do consumidor, pressionado por custos básicos e buscando alternativas online mais acessíveis. O IVS, que analisa transações via cartões, vouchers e Pix em pequenos, médios e grandes negócios, oferece um retrato detalhado do setor varejista em tempo real.
Desempenho por Setores
Os resultados de fevereiro variaram entre os segmentos:
- Altas:
- Material de construção: +0,7%, impulsionado por reformas residenciais;
- Móveis e eletrodomésticos: +0,2%, com vendas sustentadas por promoções.
- Quedas:
- Livros, jornais, revistas e papelaria: -5,9%, afetado pela digitalização;
- Hipermercados, supermercados, alimentos, bebidas e fumo: -2,6%, reflexo da inflação alimentar;
- Combustíveis e lubrificantes: -1,9%, devido a preços voláteis;
- Artigos farmacêuticos: -1,5%, após alta sazonal em janeiro;
- Outros artigos de uso pessoal e doméstico: -0,7%.
- Estável:
- Tecidos, vestuário e calçados: sem variação significativa.
Contexto Econômico
A queda ocorre em um cenário de desafios macroeconômicos. Dados do IBGE apontam que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 0,6% em fevereiro, com alimentos e bebidas liderando a alta (+1,2%), enquanto a CNC estima que 78% das famílias brasileiras estão endividadas — o maior nível desde 2010. “O poder de compra está erodido, e o varejo sente o reflexo imediato”, analisou Calvelli no comunicado à imprensa (disponível em PDF, 153 kB).
O resultado de fevereiro contrasta com o otimismo de janeiro, quando o varejo físico cresceu 3,1%, sugerindo uma sazonalidade pós-festas seguida por uma freada brusca.
Perspectivas e Impactos
O IVS, que cobre todo o espectro do varejo nacional, indica que a recuperação dependerá de alívio na inflação e aumento da renda disponível. Setores como material de construção mostram resiliência, mas a queda em bens essenciais como alimentos e combustíveis acende um alerta para o consumo básico. Para março, analistas preveem estabilização, com o comércio digital possivelmente ganhando mais terreno — um sinal de que o varejo brasileiro está em transição, mas ainda sob pressão.