Economia

Do rock ‘n’ roll ao pires na mão: Milei canta enquanto Argentina queima e apela a resgate de Trump para salvar o peso

Em meio a escândalos, crise econômica e uma corrida desesperada contra o tempo antes das eleições, o presidente argentino se apresenta como astro do rock enquanto sua equipe viaja a Washington para confirmar o apoio americano.

Em uma cena que beira o surrealismo político, o presidente da Argentina, Javier Milei, subiu a um palco em Buenos Aires nesta semana, vestiu uma jaqueta de couro e, como um astro do rock, cantou clássicos para uma arena lotada. O espetáculo, no entanto, não era de celebração, mas de desespero. Enquanto Milei tentava reviver a imagem de “outsider” que o elegeu, sua equipe econômica estava em Washington, em uma peregrinação para garantir o apoio dos Estados Unidos e evitar o colapso total do peso argentino. A performance bizarra é o retrato de um governo encurralado, que vê sua revolução libertária desmoronar em meio a uma crise econômica, política e social.

O “milagre” prometido por Milei parece ter chegado ao fim. Nas últimas semanas, a desconfiança dos mercados sobre o futuro político do presidente provocou uma corrida cambial e uma venda massiva do peso. Para tentar conter a sangria e defender a moeda, o governo argentino queimou suas já escassas reservas internacionais, mas a pressão não cedeu. A crise foi deflagrada por uma dura derrota eleitoral na província de Buenos Aires e agravada por escândalos de corrupção que atingem o círculo mais íntimo do presidente, incluindo sua irmã e principal assessora, Karina Milei. O “motosserra” de Milei, que cortou gastos públicos de forma brutal, agora atinge áreas sensíveis como a renda dos aposentados e hospitais pediátricos, minando rapidamente seu apoio popular.

Para quem não é da área, podemos simplificar alguns termos…

Uma “corrida cambial” (ou “run on the currency”) acontece quando investidores e a população perdem a confiança na moeda de um país e tentam vendê-la em massa para comprar uma moeda mais forte, como o dólar. Isso faz com que o valor da moeda local despenque, gerando inflação e instabilidade. Para conter isso, o governo americano ofereceu uma “linha de swap cambial”. Funciona como um empréstimo de emergência: o Banco Central americano disponibiliza dólares para a Argentina, que os usa para intervir no mercado e defender o peso, comprometendo-se a devolver os dólares no futuro.

O resgate de Trump: um bote salva-vidas político

É nesse cenário de caos que a equipe de Milei foi a Washington buscar socorro. E ele veio, mas com um forte componente político. A administração de Donald Trump, alinhada ideologicamente com o libertário argentino, concordou em estender uma linha de apoio. A meta da Casa Branca não parece ser uma solução de longo prazo para a economia argentina, mas sim um objetivo muito mais pragmático: manter o peso estável até as cruciais eleições legislativas de 26 de outubro. O apoio americano é visto por analistas como uma “ponte frágil” para que Milei atravesse a eleição sem o constrangimento de uma desvalorização massiva, que seria politicamente desastrosa.

A intervenção, no entanto, não resolve os problemas estruturais. A maioria dos economistas concorda que o peso está supervalorizado e que uma desvalorização é inevitável para que a Argentina recupere a competitividade. Milei está preso em um dilema: segurar a moeda artificialmente até a eleição, queimando as reservas e a ajuda externa, ou liberá-la e arcar com o custo inflacionário e a fúria dos eleitores. A ajuda de Trump, portanto, não é um cheque em branco, mas uma aposta de alto risco de que Milei consiga um bom resultado eleitoral que lhe dê fôlego para as reformas mais duras.

Enquanto a Argentina se equilibra na corda bamba, a imagem de seu presidente pulando em um palco como um rock star se torna uma metáfora de seu governo. Para seus apoiadores, é a prova de que ele ainda tem a energia e a rebeldia para lutar. Para os críticos, é a negação da realidade, um líder que prefere o espetáculo à gestão, cantando para sua plateia enquanto o país pega fogo. A questão que as próximas semanas responderão é se a música, e o dinheiro de Washington, serão suficientes para abafar o som da crise.

Redação do Movimento PB

Redação do Movimento PB [NMG-OGO-11102025-A8B9C2-13P]