Guerra comercial EUA-China: o caos que beneficia o Brasil e nos transforma na nova ‘fazenda do mundo’
Enquanto Trump e Pequim trocam farpas e tarifas, Brasil surge como o grande vencedor silencioso, abocanhando o mercado de soja americano na China e se preparando para receber uma avalanche de produtos chineses a preços mais baixos.
Enquanto as duas maiores potências do mundo, Estados Unidos e China, mergulham em uma nova e mais agressiva fase de sua guerra comercial, um terceiro ator observa o confronto de uma posição surpreendentemente vantajosa: o Brasil. A decisão do presidente Donald Trump, nesta sexta-feira (10), de impor novas tarifas de 100% sobre produtos chineses, elevando a barreira total para 130%, pode gerar caos nos mercados globais, mas para a economia brasileira, representa uma oportunidade de ouro. Na briga dos gigantes, o Brasil se consolida como a alternativa estratégica, pronto para lucrar tanto na exportação quanto na importação.
A nova escalada, que inclui ameaças americanas de controlar a venda de peças da Boeing em resposta às restrições chinesas sobre terras raras, tende a aprofundar um movimento que já beneficia o Brasil desde o início do conflito. O exemplo mais claro e emblemático é o da soja. Com as barreiras impostas por Pequim aos produtos agrícolas dos EUA, a China, maior compradora de soja do mundo, virou-se para o Brasil para alimentar sua população e sua indústria. “A gente pode olhar o que aconteceu com a soja brasileira, que nunca vendeu tanto para os chineses, que pararam de comprar dos americanos”, aponta Ian Lopes, economista da Valor Investimentos.
A percepção do economista é corroborada por dados vindos do próprio “perdedor” da história. Um relatório recente da American Farm Bureau Federation, a principal entidade de agricultores dos EUA, soou o alarme: as exportações de soja americana para a China despencaram quase 78% entre janeiro e agosto deste ano em comparação com 2024. O documento é categórico: “Mesmo quando os agricultores americanos produzem safras com preços competitivos, a China tem reduzido constantemente sua dependência dos Estados Unidos, voltando-se para o Brasil”. A conclusão é inescapável: a demanda chinesa não diminuiu, ela apenas mudou de fornecedor.
O benefício em duas vias: vendendo mais caro, comprando mais barato
A expectativa dos analistas é que esse fenômeno, já consolidado na soja, se repita em diversas outras cadeias produtivas à medida que a China retaliar as novas tarifas de Trump. Com as portas do mercado americano se fechando, o Brasil se torna o parceiro ideal para suprir a demanda chinesa por commodities agrícolas e minerais. Mas a vantagem brasileira não para por aí. Ela também acontece na via de importação.
Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, explica que a China, vendo seu principal mercado consumidor (os EUA) se tornar mais hostil, precisará escoar sua gigantesca produção para outros lugares. O Brasil surge como um destino natural. “Produtos que a China venderia para os Estados Unidos, ela vai ter que canalizar para o mercado brasileiro. Então, isso acaba aumentando a oferta e abaixando esses preços [para o consumidor brasileiro]”, detalha o especialista. Esse fluxo de produtos chineses mais baratos pode, inclusive, ajudar a arrefecer a inflação no Brasil, um efeito colateral bem-vindo da disputa alheia.
Embora a interdependência entre EUA e China ainda seja enorme, a nova rodada de hostilidades cria uma janela de oportunidade histórica para o Brasil. A guerra comercial está redesenhando as cadeias de suprimentos globais, e o país se posiciona como um porto seguro, um fornecedor confiável e um grande mercado consumidor. Para a Paraíba e todo o Nordeste, regiões estratégicas na produção agrícola e com portos vitais, os benefícios podem ser ainda mais diretos. Enquanto a velha ordem mundial estremece, o Brasil, jogando com pragmatismo, tem a chance de se firmar não apenas como o celeiro do mundo, mas como um protagonista fortalecido no novo tabuleiro geopolítico que emerge do caos.
Redação do Movimento PB
Redação do Movimento PB [NMG-OGO-12102025-F1A9B8-13P]