Com os Estados Unidos impondo novas sobretaxas a produtos chineses, especialistas alertam para uma possível avalanche de mercadorias da China em outros mercados globais — incluindo o Brasil. Para a indústria nacional, o cenário exige atenção redobrada e articulação entre governo e setor produtivo.
A indústria brasileira acompanha com preocupação os desdobramentos da nova rodada de sobretaxas impostas pelos Estados Unidos aos produtos chineses. A medida, parte de uma escalada nas tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo, pode provocar uma realocação maciça de mercadorias chinesas para outros mercados — como o Brasil.
A China construiu seu crescimento como o principal centro industrial do planeta, exportando produtos cada vez mais avançados tecnologicamente. O que antes era sinônimo de baixa qualidade, hoje ocupa espaço nas prateleiras globais com celulares, carros elétricos, fertilizantes, máquinas agrícolas e componentes eletrônicos de última geração.
Segundo a Casa Branca, a reação chinesa ao novo tarifaço pode resultar em um reposicionamento das exportações para países do G7 e do Sul Global. Atualmente, o Brasil figura como o 15º maior comprador de produtos chineses.
“O Brasil pode ser um destino de produtos que são necessários para a indústria e o dia a dia da população, mas também deve enfrentar um aumento no dumping chinês. Concorrer com a China é um desafio, devido ao baixo custo de produção e aos altos subsídios estatais. O consumidor pode até se beneficiar, mas a indústria local certamente será pressionada”, avalia Thiago de Aragão, CEO da Arko International.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) emitiu alerta. “É um cenário que demanda atenção e esforço conjunto para evitar danos ainda maiores à indústria nacional”, afirmou Antônio Carlos Costa, superintendente da entidade.
Por outro lado, especialistas apontam que o momento também pode abrir portas para negociações bilaterais mais estratégicas. “O Brasil pode atrair investimentos chineses para instalação de fábricas em território nacional, como já ocorre no setor de veículos elétricos”, sugere o professor de relações internacionais Vinícius Vieira.
A guerra tarifária global pode, assim, transformar o Brasil tanto em mercado consumidor quanto em potencial polo de produção — tudo vai depender de como o país articula sua política industrial e comercial nos próximos meses.