Marrocos: a ponte da China para carros elétricos na Europa
Marrocos emerge como atalho chinês para contornar tarifas da UE sobre carros elétricos, com investimentos superiores a US$ 10 bilhões no setor automotivo.
A União Europeia (UE) intensificou a guerra comercial ao impor tarifas sobre carros elétricos chineses a partir de outubro de 2024, com alíquotas que variam de 7,8% a 35,3%, além do imposto de importação padrão de 10%. A medida, que visa proteger a indústria automotiva europeia, elevou os custos de veículos fabricados na China, impactando montadoras como BYD, Geely, SAIC e até a Tesla. No entanto, a China encontrou em Marrocos um aliado estratégico para driblar essas barreiras e manter sua competitividade no mercado europeu.
Tarifas da UE e resistência das montadoras
As tarifas, justificadas pela UE como resposta a subsídios estatais chineses, geraram reações. Montadoras chinesas, junto à Tesla, entraram com ações no Tribunal de Justiça da UE para contestar as taxas, consideradas “injustas” pelo setor. A China também levou o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC), acusando a UE de protecionismo. Apesar das tensões, a UE mantém diálogo com Pequim, buscando alternativas como preços mínimos, e isentou híbridos plug-in das novas tarifas, sinalizando espaço para negociações.
Marrocos: um hub automotivo estratégico
Marrocos se consolidou como um dos principais destinos para investimentos chineses, que já superam US$ 10 bilhões no setor automotivo. Localizado a poucos quilômetros da Europa, o país aproveita acordos de livre-comércio com a UE e os EUA, além de incentivos fiscais e abundância de fosfato, essencial para baterias de veículos elétricos. Em 2023, Marrocos exportou 536 mil veículos para a UE, superando China, Índia e Japão, e tornou-se o segundo maior fornecedor de carros do bloco, atrás apenas da própria UE.
Investimentos chineses no Reino
Empresas como a Gotion High-Tech, que assinou um acordo de US$ 1,3 bilhão para construir uma gigafábrica de baterias, e a BYD, com planos de produção em Tânger, estão transformando Marrocos em um hub de veículos elétricos. A proximidade com a Europa, combinada com a infraestrutura portuária de Tânger e a disponibilidade de energia renovável, atrai montadoras chinesas que buscam contornar as tarifas europeias. “Marrocos é uma ponte para mercados ocidentais”, afirmou Mehdi Laraki, presidente do Conselho de Negócios Marrocos-China.
Desafios e oportunidades
Embora as tarifas da UE busquem proteger fabricantes europeus, como Volkswagen e Renault, elas podem ter efeito limitado. Montadoras chinesas conseguem absorver parte dos custos devido a margens de lucro elevadas na Europa, onde seus veículos são vendidos a preços mais altos que na China. Além disso, a mudança de produção para Marrocos pode neutralizar o impacto das tarifas, garantindo preços competitivos. Por outro lado, a UE enfrenta o risco de retaliações chinesas, como as já aplicadas a produtos como conhaque, laticínios e carne suína.
Impacto global
A ascensão de Marrocos como base de produção reflete a estratégia chinesa de regionalizar cadeias de suprimento para contornar barreiras comerciais. A longo prazo, isso pode fortalecer a indústria automotiva marroquina, que já emprega mais de 250 mil pessoas e exporta cerca de US$ 14 bilhões anualmente. Contudo, a UE precisará equilibrar a proteção de sua indústria com a necessidade de veículos elétricos acessíveis para cumprir metas climáticas.
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Por redação do Movimento PB
Fontes: Telquel.ma , Reuters