Medidas do Governo para Baratear Alimentos Devem Ter Impacto Limitado, Avaliam Economistas

A decisão do governo de zerar tarifas de importação para itens como carne, café e açúcar pode ter pouco efeito na redução dos preços, segundo especialistas. Fatores como preços internacionais, quebras de safra e baixa relevância dos produtos no IPCA limitam o impacto das medidas.


Governo Anuncia Zeramento de Tarifas para Alimentos, mas Efeito Pode Ser Limitado
Nesta quinta-feira (6), o vice-presidente Geraldo Alckmin anunciou a redução a zero das tarifas de importação para itens como carne, café, açúcar, milho, azeite, óleo de girassol, sardinha, biscoitos e massas alimentícias. A medida tem como objetivo aumentar a competitividade dos produtos no mercado interno e, assim, reduzir os preços para o consumidor. No entanto, economistas avaliam que o impacto pode ser pequeno, especialmente para a população de baixa renda.

Por Que o Impacto Pode Ser Pequeno?
André Braz, pesquisador do FGV Ibre, destaca que muitos dos produtos listados têm preços atrelados ao mercado internacional ou não possuem peso significativo no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país. “A carne é o item mais relevante, com peso de quase 3% no IPCA. Já produtos como azeite e sardinha têm impacto limitado, pois não são amplamente consumidos pela população”, explica.

Felippe Serigati, economista da FGV Agro, ressalta que o Brasil é um grande exportador de muitos dos itens beneficiados, como café, açúcar e carne bovina. “Se o mundo busca esses produtos no Brasil, de onde viriam as importações mais baratas?”, questiona. Além disso, ele lembra que os preços desses alimentos são influenciados por fatores globais, como quebras de safra e demanda internacional, o que limita o efeito das tarifas zeradas.

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Impacto Fiscal e Riscos para o Produtor Local
A medida também gera preocupações sobre seus efeitos fiscais e na produção nacional. Vitor Miziara, analista financeiro, alerta que a isenção de tarifas pode reduzir a arrecadação do governo e criar distorções no mercado. “Se o dólar subir ou os preços internacionais aumentarem, a inflação pode subir mesmo com as tarifas zeradas”, afirma. Além disso, a medida pode prejudicar os produtores locais, que enfrentariam concorrência de importações mais baratas.

Alternativas para Reduzir a Inflação dos Alimentos
André Braz sugere que o governo adote medidas mais efetivas, como o controle do câmbio e a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) pelos estados. “Um dólar mais estável ajudaria a conter os preços, já que a moeda desvalorizada encarece importações e estimula exportações, reduzindo a oferta interna”, explica.

Andréa Angelo, estrategista da Warren Investimentos, concorda que a redução do ICMS poderia ter um impacto mais significativo na inflação dos alimentos. “Essas medidas [do governo] não devem alcançar a população que mais sofre com os aumentos recentes”, avalia.

Outras Medias Anunciadas
Além da redução de tarifas, o governo anunciou:

  • Ampliação do SISBI-POA: O Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal será expandido, permitindo que produtos como leite, mel e ovos inspecionados em municípios possam ser vendidos em todo o país.
  • Reforço dos Estoques Reguladores: A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) terá seus estoques fortalecidos para garantir oferta e estabilidade de preços em momentos críticos.
  • Plano Safra com Foco na Cesta Básica: Os financiamentos do Plano Safra priorizarão a produção de itens da cesta básica, com estímulos para produtores que abastecem o mercado interno.
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Conclusão
Embora as medidas do governo busquem aliviar a inflação dos alimentos, especialistas avaliam que seu impacto será limitado. A redução de tarifas pode beneficiar principalmente consumidores de maior renda, enquanto a população de baixa renda continuará enfrentando preços elevados. Para um efeito mais amplo, seriam necessárias ações como o controle do câmbio e a redução do ICMS.

Com informações de G1

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