Mil funcionários da Amazon alertam: IA é bomba para democracia e empregos

Mais de mil funcionários da Amazon estão soando o alarme sobre a investida agressiva da empresa em inteligência artificial. Em uma carta aberta endereçada ao CEO Andy Jassy e à alta liderança, os trabalhadores expressam preocupação com os impactos da IA na democracia, nos empregos e no meio ambiente, classificando a abordagem da gigante tecnológica como um perigo iminente.
O Alerta dos Funcionários
A carta, assinada por mais de mil colaboradores – desde caixas do Whole Foods até técnicos de TI – embora represente uma fração da força de trabalho global da Amazon, de 1,53 milhão, levanta questões sérias. Os signatários acusam a empresa de “deixar de lado suas metas climáticas para construir IA”, forçar o uso da tecnologia enquanto planeja cortes de pessoal e contribuir para a criação de um “estado de vigilância mais militarizado” com menos proteção para os cidadãos comuns.
“Nós, funcionários da Amazon abaixo-assinados, temos sérias preocupações com esta implementação agressiva durante a ascensão global do autoritarismo e nossos anos mais importantes para reverter a crise climática”, afirmam os autores. “Acreditamos que a abordagem de ‘custos justificados, velocidade máxima’ para o desenvolvimento da IA causará danos impressionantes à democracia, aos nossos empregos e à Terra.”
A Visão da Amazon: Lucro e Expansão
Enquanto os funcionários protestam, o CEO Andy Jassy lidera a empresa em uma estratégia de pesados investimentos em IA e uma força de trabalho mais enxuta. A Amazon planeja investir até 50 bilhões de dólares para expandir a infraestrutura de IA e supercomputação para clientes do governo dos EUA na Amazon Web Services (AWS), a partir de 2026. Além disso, a gigante da tecnologia deve gastar quase 150 bilhões de dólares em data centers nos próximos 15 anos.
Em sua teleconferência de resultados do terceiro trimestre, o CFO Brian Olsavsky revelou que a Amazon já gastou 89,9 bilhões de dólares este ano, principalmente no fortalecimento da AWS para suportar a demanda por IA e serviços centrais.
Impactos no Clima e Vigilância
Um dos pontos mais críticos levantados na carta é o impacto ambiental. Os funcionários apontam que as emissões globais de carbono da Amazon aumentaram desde 2019, apesar de sua meta de neutralidade de carbono até 2040. No ano passado, as emissões cresceram 6%, em parte devido à rápida construção de data centers.
A Amazon, em resposta, declarou que a alegação de abandono de compromissos climáticos é “categoricamente falsa e ignora os fatos”, destacando investimentos em energia renovável e eficiência energética, incluindo acordos de energia nuclear avançada e mais de 600 projetos de energia renovável globalmente.
Além disso, a carta critica a transformação da Ring, empresa de câmeras de campainha da Amazon, em uma tecnologia com foco em IA, e a reintrodução de uma ferramenta que permite à polícia solicitar imagens de seus feeds. Para os trabalhadores, isso “cederá uma quantidade inacreditável de poder nas mãos de um governo cada vez mais autoritário”.
O Preço dos Empregos
A corrida pela IA também tem um custo humano. Em outubro, a Amazon anunciou o corte de cerca de 14 mil empregos corporativos, aproximadamente 4% de sua força de trabalho corporativa, como parte de uma reestruturação impulsionada pela IA. Relatos sugerem que os cortes totais podem chegar a 30 mil, a maior redução da história da empresa.
Beth Galetti, vice-presidente sênior de pessoas e experiência da Amazon, justificou os cortes em um memorando interno, afirmando que “esta geração de IA é a tecnologia mais transformadora que vimos desde a internet”.
No entanto, os funcionários que permanecem na empresa relatam que são pressionados a produzir mais em menos tempo, forçados a construir ferramentas de IA “desperdício” mesmo para projetos que não as exigem, e veem investimentos massivos em IA enquanto o suporte para o desenvolvimento de suas carreiras é mínimo.
As Demandas dos Trabalhadores
Diante desse cenário, os signatários da carta exigem que a Amazon detalhe um plano público para alimentar todos os data centers com energia renovável, ofereça um assento à mesa para revisar o uso e a necessidade da IA em nível organizacional, e prometa que a IA da empresa não será usada para violência, vigilância ou deportação em massa.
“Os funcionários da Amazon que assinam esta carta acreditam na construção de um mundo melhor – não na construção de bunkers para recuar”, concluem os autores, clamando por um futuro onde os ganhos da IA proporcionem mais liberdade para todos.
Da redação do Movimento PB.
