Mixue: rede chinesa que superou McDonald’s e Starbucks anuncia investimento bilionário no Brasil

Com promessa de R$ 3,2 bilhões em aportes e até 25 mil empregos, gigante do sorvete e bubble tea estreia no mercado brasileiro em meio a polêmicas e expectativas

A rede chinesa Mixue Ice Cream & Tea, considerada a maior do mundo em número de lojas no segmento de sorvetes e bebidas geladas, anunciou sua chegada ao Brasil com um investimento de R$ 3,2 bilhões e a expectativa de gerar até 25 mil empregos até o fim da década. A iniciativa integra um pacote de acordos firmados durante a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China.

O anúncio ocorre em um momento de intensificação da relação comercial entre os dois países. Empresas chinesas prometeram um total de R$ 27 bilhões em aportes no Brasil, abrangendo setores como energia, mobilidade, tecnologia e alimentação. A Mixue será a primeira grande rede de fast food chinesa a operar no país — movimento que pode abrir portas para outras marcas asiáticas no mercado latino-americano.

Trajetória de sucesso começou com raspadinhas

Fundada em 1997 na província de Henan por Zhang Hongchao, então estudante universitário de Finanças e Economia, a Mixue teve origem humilde: uma barraca de rua que vendia raspadinhas de gelo. Batizada inicialmente de Mixue Bingcheng (“palácio de neve doce”, em tradução livre), a marca cresceu apostando em preços baixos, forte apelo visual e um modelo de franquia agressivo.

O cardápio é enxuto, focado em chás adoçados, smoothies e sorvetes simples — vendidos a preços médios de 6 iuanes (cerca de R$ 4,70). O público-alvo são jovens de classe média em busca de produtos acessíveis e uma experiência visual marcante, com lojas coloridas e trilha sonora repetitiva.

Rede já superou gigantes ocidentais

Hoje, a Mixue opera mais de 45 mil unidades em 12 países da Ásia, incluindo China, Singapura e Tailândia. Com isso, ultrapassou marcas globais como McDonald’s (com cerca de 43 mil lojas) e Starbucks (40,5 mil) em número de estabelecimentos.

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Boa parte dessa expansão se deve ao modelo de negócios verticalizado: além de franqueadora, a Mixue atua como fornecedora dos insumos, equipamentos e materiais utilizados nas lojas, o que garante padronização e margens elevadas mesmo com preços populares.

Cada unidade exibe o carismático mascote da marca, Snow King — um boneco branco com coroa vermelha —, frequentemente comparado ao Ronald McDonald por seu reconhecimento entre os consumidores chineses.

Modelo sob pressão: denúncias e desafios regulatórios

Apesar do crescimento meteórico, a rede enfrenta críticas e denúncias. Em 2023, uma investigação do jornal The Beijing News revelou que unidades da Mixue em Nanquim utilizavam ingredientes vencidos, adulteravam datas de validade e contratavam funcionários sem registro formal.

As práticas foram atribuídas à pressão sobre os franqueados para manter baixos custos operacionais. Especialistas apontaram falhas estruturais no controle de qualidade da empresa, que opta por um modelo de expansão acelerada baseado em taxas de franquia reduzidas e alto volume de vendas.

Além disso, a empresa já foi multada na China por empregar menores de idade, contrariando a legislação trabalhista local. Em abril de 2022, uma loja foi penalizada por contratar uma jovem de 15 anos — caso repetido por outra unidade alguns meses depois.

Desempenho financeiro impressiona

Apesar das controvérsias, os números financeiros da Mixue são robustos. Em 2022, a rede registrou lucro líquido superior a US$ 300 milhões, consolidando-se como um dos principais players do setor global de alimentos e bebidas.

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Em março de 2025, a empresa realizou sua abertura de capital na Bolsa de Valores de Hong Kong. O IPO arrecadou US$ 444 milhões (R$ 2,3 bilhões) e suas ações valorizaram mais de 40% no primeiro dia de negociação — a maior oferta pública inicial do ano na cidade.

Mixue no Brasil: sucesso garantido ou desafio à vista?

A chegada ao Brasil será um teste decisivo para o modelo da Mixue. O país tem tradição em consumir sorvetes e bebidas geladas, mas é também um dos mercados mais regulados da América Latina, com vigilância sanitária ativa e consumidores cada vez mais atentos a práticas éticas e de sustentabilidade.

Casos como o da montadora chinesa Seres, que suspendeu suas atividades após vendas abaixo do esperado, servem de alerta. Por outro lado, a BYD — também chinesa — se consolidou como líder em veículos eletrificados no Brasil, mostrando que o mercado pode ser receptivo à inovação e tecnologia estrangeira.

A Mixue aposta em um formato de consumo acessível, com ambientação jovem e marketing envolvente. A promessa de investimentos, geração de empregos e novos sabores pode atrair o público brasileiro, desde que acompanhada de boas práticas operacionais.

O futuro da “cidade do gelo e do mel”

Resta saber se a “cidade do gelo e do mel”, como o nome da marca sugere, conquistará os consumidores brasileiros com a mesma força que demonstrou na Ásia. Entre jingles que grudam na cabeça e preços quase imbatíveis, a Mixue promete mexer com o paladar — e o mercado — do país.

Se conseguir adaptar-se à regulação, manter a qualidade e evitar os erros cometidos em sua terra natal, a gigante chinesa poderá repetir sua trajetória de sucesso do outro lado do mundo.

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