“Não temos medo”: China responde à altura, diz que não teme guerra tarifária e prepara retaliação a Trump
Em uma escalada de tensão que derrubou os mercados, Pequim acusa Washington de “duplo padrão” após nova ameaça de tarifas de 100%, sinalizando que o confronto entre as duas maiores economias do mundo está longe de acabar e pode beneficiar o Brasil.
A frágil trégua na guerra comercial entre Estados Unidos e China foi estilhaçada. Em resposta à mais recente ameaça de Donald Trump de impor uma tarifa adicional de 100% sobre produtos chineses, o governo de Pequim subiu o tom e mandou um recado direto: “Não queremos uma guerra tarifária, mas não temos medo de uma”. A declaração, divulgada pelo Ministério do Comércio chinês neste domingo (12), acusa os EUA de praticarem um “típico ‘duplo padrão'” e promete a adoção de “contramedidas” não especificadas, caso a ameaça se concretize. A troca de farpas abalou os mercados financeiros e colocou em dúvida a já instável relação entre as duas superpotências.
A nova crise foi deflagrada por Trump na última sexta-feira, em um movimento que pegou os investidores de surpresa e derrubou o índice S&P 500 em 2,7%, sua maior queda diária desde abril. A ameaça de sobretaxar os produtos chineses em mais 100% — que se somariam aos 30% já em vigor — foi uma resposta direta à decisão da China de restringir a exportação de terras raras, minerais essenciais para a fabricação de toda a tecnologia moderna, de smartphones a painéis solares. A China, que processa cerca de 90% das terras raras do mundo, usou seu domínio sobre esse recurso estratégico como uma arma na disputa, e a reação de Trump foi imediata e desproporcional.
Na sua resposta, o porta-voz do Ministério do Comércio chinês não poupou críticas à política externa americana. Ele afirmou que, por “muito tempo”, os EUA “exageraram no conceito de segurança nacional, abusaram de medidas de controle de exportação” e “adotaram práticas discriminatórias contra a China”. Para Pequim, suas próprias restrições às terras raras são “ações normais” para proteger a segurança nacional, enquanto as tarifas americanas são uma agressão injustificada. “Recorrer a ameaças tarifárias não é a maneira correta de se envolver com a China”, afirmou o comunicado.
A escalada de hostilidades ocorre em um momento delicado, às vésperas de um possível encontro entre Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, em uma cúpula na Coreia do Sul. Ameaçando se retirar da reunião, Trump usa a pressão máxima para fortalecer sua posição negocial. No entanto, a resposta firme de Pequim sugere que a estratégia pode ter o efeito contrário, levando a uma espiral de retaliações que prejudicaria a economia global. Para analistas, essa nova fase da guerra comercial, embora prejudicial para o mundo, pode continuar a beneficiar o Brasil.
Assim como ocorreu no auge do conflito anterior, a “briga dos grandes” abre uma janela de oportunidade para a economia brasileira. Com os produtos americanos sendo taxados na China e os chineses taxados nos EUA, o Brasil se consolida como um fornecedor alternativo e confiável para ambos os lados, especialmente no agronegócio, como já acontece com a soja. Além disso, a necessidade da China de escoar sua produção para outros mercados pode resultar em uma maior oferta de produtos industrializados a preços mais competitivos para o consumidor brasileiro. Enquanto Washington e Pequim trocam golpes, o Brasil, jogando com pragmatismo, se posiciona para colher os frutos de uma disputa que redesenha o mapa do comércio mundial.
Redação do Movimento PB
Redação do Movimento PB [NMG-OGO-13102025-F4A9B1-13P]