Por Redação do Movimento PB
A ordem econômica global está sob os holofotes de uma revolução silenciosa. Desde 2022, a administração Trump trabalha em um projeto ambicioso: reescrever as regras do sistema monetário internacional, corrigir déficits históricos e trazer de volta empregos industriais aos EUA. O plano, apelidado de Acordo de Mar-a-Lago, não é apenas uma resposta a crises econômicas — é um movimento estratégico para proteger a segurança nacional americana em um mundo cada vez mais polarizado.

A história começa em 1944, com o Acordo de Bretton Woods, que elevou o dólar à condição de moeda global lastreada em ouro. Mas em 1971, Nixon rompeu com o padrão-ouro, inaugurando uma era de incertezas: taxas de câmbio flutuantes, acordos efêmeros como o Plaza (1985) e o Louvre (1987), e a ascensão da China como potência exportadora. O país asiático, ao desvalorizar artificialmente sua moeda em 1994 (de 6 para 8,5 yuans por dólar), inundou o mercado com produtos baratos, acumulando superávits comerciais estratosféricos — US$ 4 trilhões em reservas até 2014. Enquanto isso, os EUA viram sua participação no PIB global encolher de 40% nos anos 1960 para 26% em 2023, com déficits em conta corrente persistentes (3% do PIB) e uma desindustrialização que custou milhões de empregos: a manufatura, que representava 16% dos postos de trabalho em 1980, hoje responde por apenas 8,8%.
Gráficos e números não mentem:



Para Trump e seus assessores, como Stephen Myren, arquiteto do plano, esses desequilíbrios são uma ameaça existencial. “Dependemos de importações até para produtos estratégicos. Em uma guerra, seríamos vulneráveis”, alerta Myren. O diagnóstico é respaldado pelo dilema de Triffin, teoria dos anos 1960 que prevê crises quando a moeda de reserva global (o dólar) é emitida em excesso para suprir demandas internacionais, gerando endividamento insustentável. A solução proposta? Um novo pacto multilateral, negociado à sombra das palmeiras de Mar-a-Lago, que enfraqueceria o dólar para revitalizar a indústria americana, enquanto aliados venderiam parte de suas reservas da moeda.
Mas o caminho é minado por riscos. Tarifas impostas por Trump — como as de 25% sobre o aço brasileiro em 2023 — já geraram retaliações e protestos globais. Economistas como Paul Krugman veem nas medidas um “tiro no pé”, capaz de inflamar tensões e inflação. Para o Brasil, a situação é delicada: o país vive um cabo de guerra entre seu maior parceiro comercial (China, responsável por 30% das exportações) e a pressão americana por alinhamento. Uma desaceleração chinesa, por exemplo, abalaria as vendas de soja e minério de ferro, enquanto uma queda abrupta do dólar afetaria as reservas de US$ 325 bilhões do Banco Central.

O mundo assiste a um jogo de xadrez onde economia e geopolítica se fundem. Se o Acordo de Mar-a-Lago fracassar, a instabilidade monetária e as guerras comerciais podem se intensificar. Se prosperar, redefinirá o poder americano em um século marcado pela rivalidade com a China. Como escreveu Myren, “o caminho é estreito, mas ignorá-lo é insustentável”. Enquanto isso, países como o Brasil terão de navegar em águas turbulentas, onde cada movimento de Trump redefine não apenas o mercado, mas o equilíbrio de poder global.
Fontes: Tesouro dos EUA através de dados do Fred mobile App,FMI, artigos de Stephen Myren e Robert Triffin