Países emergentes trocam dívidas em dólar por yuan e franco suíço para driblar juros altos nos EUA
Estratégia busca reduzir custos diante do aperto monetário americano, mas especialistas alertam para riscos cambiais
Governos de países como Quênia, Sri Lanka, Panamá e Colômbia estão reestruturando parte de suas dívidas externas em dólar e migrando para alternativas mais baratas, como o yuan chinês e o franco suíço. A mudança ocorre em meio à alta dos juros nos Estados Unidos, que pressiona os custos de financiamento e ameaça a sustentabilidade fiscal de economias emergentes.
Dólar encarece com juros elevados do Fed
Com a taxa de referência do Federal Reserve (Fed Funds) entre 4,25% e 4,50%, os empréstimos em dólar se tornaram mais caros. Mesmo com spreads de risco em níveis baixos, o peso da alta nos Treasuries aumenta a fatura para países em desenvolvimento. Segundo Armando Armenta, da AllianceBernstein, trata-se de um movimento de alívio temporário, mas que exige cautela.
Yuan ganha força com apoio da China
O yuan vem sendo adotado em especial por países com obras vinculadas à Iniciativa do Cinturão e Rota, programa trilionário de infraestrutura liderado pela China. O Quênia negocia com o China ExIm Bank a conversão para yuan de parte da dívida contraída para financiar um projeto ferroviário de US$ 5 bilhões. Já o Sri Lanka, em recuperação após o default de 2022, busca novos empréstimos em moeda chinesa para concluir rodovias estratégicas.
Franco suíço ressurge como opção barata
O Banco Nacional da Suíça zerou sua taxa básica em junho, tornando o franco suíço uma alternativa atraente. O Panamá captou quase US$ 2,4 bilhões em julho nessa moeda, com economia superior a US$ 200 milhões em comparação ao dólar. A Colômbia também estuda emissões em francos, aproveitando taxas em torno de 1,5%, bem inferiores às dívidas em dólar (7% a 8%) ou em pesos (até 12%).
Riscos cambiais seguem no horizonte
A migração para moedas de juros baixos reduz a conta de curto prazo, mas amplia a exposição cambial. Como muitas receitas estatais estão em dólar ou moedas locais, governos precisam contratar hedge para evitar perdas com desvalorizações do yuan ou do franco suíço. Esse custo extra pode corroer parte das vantagens obtidas.
Dólar mantém posição central
Especialistas lembram que, apesar das alternativas, o mercado de títulos em dólar continua sendo o mais líquido e robusto. Mesmo países que diversificam ainda dependem do acesso ao mercado americano para financiamentos de longo prazo. A lembrança é de que muitos empréstimos da década passada ligados à China foram firmados em dólar, quando os juros eram mais baixos.
Empresas também entram na onda
Não apenas governos, mas também companhias de emergentes vêm ampliando emissões em euros, que já somam US$ 239 bilhões em 2025. Ainda assim, os títulos corporativos em dólar continuam dominantes, com estoque de US$ 2,5 trilhões.
Alívio tático ou mudança estrutural?
O movimento atual parece responder mais a um alívio conjuntural diante da política monetária dos EUA do que a uma mudança estrutural. Contudo, o avanço do yuan — ainda que limitado e concentrado em acordos bilaterais — e o retorno do franco suíço mostram que há espaço crescente para moedas alternativas no financiamento internacional.
Da redação, com informações de agências internacionais.
[MV-PB-05092025-7f3cX12-v12.5]
Descubra mais sobre Movimento PB
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.