Países temem estratégia chinesa para tarifaço por ‘enxurrada’ de produtos
Com tarifas americanas elevadas, China diversifica exportações e provoca temores por enxurrada de produtos em outros mercados.
Com o aumento constante das tarifas americanas sobre produtos chineses, Pequim tem intensificado esforços para diversificar os destinos de suas exportações. Em 2025, diante das barreiras impostas pelos EUA, fabricantes da China buscaram mercados alternativos próximos, como Brasil, Japão, Malásia e Camboja, além de fortalecer o comércio com a União Europeia, ASEAN e África.
Resiliência e diversificação das exportações chinesas
Apesar da queda de quase 18% nas exportações para os EUA nos primeiros dez meses de 2025, as vendas chinesas cresceram 5,3% globalmente, impulsionadas pelo aumento expressivo dos fluxos com parceiros fora do eixo americano. Produtos como máquinas-ferramenta, componentes automotivos, tecnologias verdes, veículos elétricos, eletrônicos e fertilizantes ganham espaço na África, América Latina e Sudeste Asiático.
Esse movimento não surge por acaso. A estratégia chinesa envolve décadas de consolidação da presença econômica global, com investimentos em infraestrutura via Iniciativa Cinturão e Rota e transferências de parte da produção para países vizinhos, reduzindo o impacto das tarifas e sostendo a competitividade.
Pressões e preocupações globais
Por outro lado, essa expansão tem provocado preocupações, principalmente pelos temores de que produtos chineses mais baratos inunde mercados locais, comprometendo indústrias domésticas e causando desindustrialização. Países como Brasil, México, Índia e EUA têm respondido com processos antidumping e medidas compensatórias, que cresceram significativamente em relação a anos anteriores.
Especialistas apontam que a transferência limitada de tecnologia pelas companhias chinesas, especialmente em países latino-americanos, ampliou o debate sobre a qualidade dos investimentos e o impacto no desenvolvimento local. Alguns dirigentes da ASEAN mencionam a sensação de “tsunami de produtos chineses”, sem um equilíbrio adequado.
Impactos e adaptabilidade do setor manufatureiro chinês
Na prática, mesmo com a diversificação, fábricas chinesas têm sofrido cancelamentos de turnos e perda de empregos, reflexo direto da instabilidade nas relações comerciais com os EUA. O cenário de tarifas imprevisíveis tem gerado insegurança para empresários, que buscam no mercado interno da China uma alternativa mais segura para suas operações.
Há ainda incertezas sobre a sustentação dessa estratégia no longo prazo. Parte das mercadorias exportadas pode estar sendo estocada ou redistribuída via terceiros para aproveitar tarifas reduzidas, o que comprimem margens de lucro e indicam uma competição intensa.
Perspectivas comerciais globais e desafios
A recente trégua tarifária entre EUA e China, mantendo uma média de 47% em tarifas, oferece alguma esperança de recuperação do comércio bilateral. Contudo, a volatilidade econômica global e a baixa demanda doméstica chinesa mantêm a necessidade de fortalecer o consumo interno e ampliar mercados alternativos.
À medida que as negociações globais avançam, o equilíbrio entre abrir mercados, proteger indústrias locais e promover desenvolvimento sustentável será fundamental para lidar com o impacto da estratégia chinesa de exportação por volume, que ao mesmo tempo traz oportunidades e desafios para diferentes regiões do mundo.
[Da redação do Movimento PB]
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