Rússia Conta com Brasil para Preencher Lacunas de Mercado Após Saída de Empresas Ocidentais
Rússia vê Brasil como parceiro para ocupar nichos de mercado deixados por empresas ocidentais, complementando China. Comércio bilateral atingiu US$ 12,4 bi em 2024.
Em 18 de junho de 2025, durante o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, o vice-ministro da Economia da Rússia, Vladimir Ilyichev, declarou que empresas brasileiras podem preencher lacunas no mercado russo deixadas pela saída de companhias ocidentais, em complemento às chinesas. “Acreditamos que as empresas brasileiras podem ocupar alguns dos nichos que ficaram vagos em nosso mercado, após a saída de empresas ocidentais, e que ainda não foram totalmente preenchidos por nossos colegas chineses”, afirmou Ilyichev no painel Brasil-Rússia.
A saída de dezenas de empresas ocidentais da Rússia, iniciada após o conflito na Ucrânia em 2022, causou fuga de capitais e desaceleração econômica. Gigantes como Shell, BP, McDonald’s e Inditex (Zara) abandonaram o mercado, enfrentando descontos de até 50% e impostos punitivos impostos pelo Kremlin. Moscou agora prioriza parcerias com países “amigos” do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), que não aderiram às sanções ocidentais, focando em produção local e novos mercados.
Ilyichev sugeriu que empresas brasileiras estabeleçam operações na Rússia em setores como engenharia, bens de consumo e manufaturas especializadas. O comércio bilateral atingiu um recorde de US$ 12,4 bilhões em 2024, com exportações brasileiras de soja, carne bovina, café e amendoim, mas ainda abaixo das russas, que incluem fertilizantes e derivados de petróleo. A Rússia também expressou interesse em cooperação em energia nuclear, destacando o potencial para laços mais amplos.
Apesar das oportunidades, a Rússia impõe barreiras a empresas ocidentais que tentam retornar, especialmente em telecomunicações, onde o presidente da Rostelecom, Mikhail Oseevskiy, defendeu a exclusão de firmas europeias e americanas. A China domina setores como a indústria automobilística, mas nichos como bens de consumo e tecnologia permanecem abertos. O Brasil, porém, enfrenta desafios logísticos e a necessidade de superar a dependência de exportações de commodities para atender às demandas russas por produtos de maior valor agregado.
A Rússia vê o Brasil como um aliado estratégico no BRICS, especialmente após a exclusão de mercados ocidentais. A ApexBrasil identificou 231 oportunidades comerciais no mercado russo, incluindo máquinas, alimentos processados e produtos químicos. O fortalecimento da parceria pode beneficiar o agronegócio e indústrias brasileiras, mas exige investimentos em inovação e educação, como destacou o presidente Lula em visita à China em 2024.
A aproximação com a Rússia reflete a estratégia brasileira de diversificar parcerias no Sul Global, em meio à tensão entre potências ocidentais e o bloco BRICS. Embora o Brasil tenha vetado a entrada da Venezuela como parceiro do BRICS, a relação com a Rússia pode ampliar mercados e contrabalançar sanções, mas exige cautela para evitar alinhamentos que prejudiquem laços com os EUA e a UE.