Setor cafeeiro brasileiro alerta: tarifa dos EUA pode extinguir marcas americanas históricas
Exportadores de café do Brasil enviaram apelo formal ao governo norte-americano solicitando a exclusão do café da tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros. O Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) alerta que a medida pode comprometer marcas tradicionais americanas que dependem do grão brasileiro para seus blends.
Interdependência comercial
Em carta ao Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), o Cecafé destaca a relação simbiótica entre os países: o café brasileiro responde por mais de 30% do mercado americano, enquanto os EUA são o principal destino das exportações nacionais, representando 16% do total. A interrupção desse fluxo prejudicaria ambos os lados.
Marcas em risco
O documento alerta que marcas icônicas americanas poderiam desaparecer se forem forçadas a alterar seus blends tradicionais. Entre as empresas potencialmente afetadas estão Folgers (J.M. Smucker Company), Maxwell House (Kraft Heinz), Eight O’Clock Coffee, Dunkin’ e Starbucks – todas dependentes do café brasileiro para manter padrões de sabor em escala global.
Impacto econômico bilateral
Os números revelam a dimensão do setor: em 2024, o Brasil exportou 50,5 milhões de sacas para 120 países, com receita de US$ 12,5 bilhões. Nos EUA, o café movimenta US$ 343 bilhões anualmente (1,2% do PIB), sustenta 2,2 milhões de empregos e gera US$ 101 bilhões em salários. Para cada US$ 1 gasto em café importado, US$ 43 são injetados na economia americana.
Sustentabilidade e pequenos produtores
O Cecafé ressalta o compromisso ambiental do setor: 51.500 km² de áreas protegidas – equivalente a 1,25 vezes o tamanho da Suíça – estão conservadas em regiões cafeeiras. Além disso, 72% dos 264,9 mil cafeicultores brasileiros operam propriedades menores que 20 hectares, destacando o caráter familiar da produção.
Alternativas em discussão
Diante da tarifa, o setor avalia triangular exportações através da União Europeia (com tarifa de 15% para os EUA) para manter competitividade. Enquanto isso, empresas americanas já solicitam adiamento de embarques do Brasil aguardando solução para o impasse tarifário.
Entendendo os termos
Para quem não é do setor: blends são misturas de cafés de diferentes origens que garantem sabor consistente; tarifa é imposto sobre produtos importados; triangulação envolve vender para um país intermediário que então revende para o destino final; já café canéfora inclui variedades como robusta e conilon.
Este impasse tarifário transcende uma simples disputa comercial: representa um risco existencial para marcas americanas centenárias cujas identidades sensoriais foram construídas com café brasileiro. A possível extinção de ícones do consumo norte-americano evidenciaria o tiro pela culatra de políticas protecionistas mal calibradas – onde o prejudicado não é apenas o exportador, mas toda uma cadeia de valor consolidada ao longo de décadas. A solução exigirá mais do que diplomacia comercial; demandará reconhecimento de que certas interdependências econômicas tornaram-se, com o tempo, patrimônios gustativos nacionais.
Redação do Movimento PB [DSR-DEE-18082025-2B3C4D-R1]
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