Sintoma da Desindustrialização: Gigante Lupo Foge do “Custo Brasil” e Abre Primeira Fábrica no Paraguai
Um movimento estratégico da gigante têxtil Lupo acendeu um forte alerta sobre os rumos da indústria nacional. A empresa, um ícone brasileiro com mais de um século de história, anunciou um investimento de R$ 30 milhões para construir sua primeira fábrica internacional em Ciudad del Este, no Paraguai. A decisão, embora inteligente do ponto de vista corporativo, é um sintoma preocupante do processo de desindustrialização e da fuga de capitais e empregos do Brasil, motivada por um ambiente de negócios cada vez mais hostil à produção.
Fundada em 1921, a Lupo é um pilar do setor têxtil, mas enfrenta os mesmos desafios que sufocam a indústria brasileira: uma carga tributária esmagadora, altos custos de mão de obra e energia, e uma burocracia complexa. Diante desse cenário, a busca por competitividade perdida no cenário doméstico levou a empresa a olhar para o outro lado da fronteira, onde encontrou um ambiente significativamente mais favorável.
A Miragem Paraguaia e o Peso do “Custo Brasil”
A escolha do Paraguai não foi aleatória. O país vizinho oferece um pacote de vantagens quase irresistível para a indústria. A “Lei de Maquila” paraguaia, por exemplo, garante isenção de impostos na importação de matérias-primas e equipamentos, com uma tributação única e baixa sobre o valor agregado na exportação. Some-se a isso o custo da mão de obra e da energia elétrica, ambos muito inferiores aos praticados no Brasil.
Enquanto o Paraguai atrai investimentos com um ecossistema pró-indústria, o Brasil os repele com o chamado “Custo Brasil”. Se a Lupo optasse por fazer o mesmo investimento aqui, enfrentaria um sistema tributário complexo, encargos trabalhistas que inflam a folha de pagamento e uma das tarifas de energia mais caras da América Latina. A decisão da empresa, portanto, expõe a necessidade urgente de reformas estruturais para que o país não continue a “exportar” suas próprias fábricas.
O Rastro da Decisão: Empregos e Divisas que Ficam pelo Caminho
A consequência imediata da manobra da Lupo é a perda de oportunidades para o Brasil. A nova unidade no Paraguai vai gerar, inicialmente, cerca de 300 empregos diretos que poderiam estar em cidades brasileiras. Além da fuga de postos de trabalho, há o impacto fiscal. Estima-se que, ao optar pelo Paraguai, o Brasil tenha perdido aproximadamente R$ 15 milhões em divisas, considerando os impostos e outros custos operacionais que deixaram de ser recolhidos localmente.
Este valor, embora pareça modesto no universo de uma grande empresa, representa um precedente perigoso. Ele sinaliza para outras indústrias que o caminho para a sobrevivência e competitividade, especialmente contra a concorrência asiática, pode estar fora do país. Cada empresa que segue essa trilha contribui para o enfraquecimento da cadeia produtiva nacional e para a precarização do mercado de trabalho.
A expansão da Lupo é um atestado da resiliência e da visão estratégica da marca, mas também um duro diagnóstico da fragilidade do projeto industrial brasileiro. O caso é um convite à reflexão sobre o modelo econômico que o país deseja seguir. A questão que fica não é se outras empresas seguirão o mesmo caminho, mas o que o Brasil fará para criar um ambiente que as convença a ficar, investir e crescer aqui.
Da redação do Movimento PB, com base em análise de Fernando Ricciarelli, CFA
Redação do Movimento PB [GME-GOO-30072025-0804-15P]