A crescente demanda por veículos elétricos (VEs) tem levado países do Sudeste Asiático a buscarem uma posição de destaque na indústria automotiva global. Malásia, Indonésia e Vietnã estão entre as nações que apostam alto na eletrificação do setor, incentivando investimentos e produção local. No entanto, os desafios são inúmeros, e os resultados ainda são incertos.
A Tailândia tem se mostrado a mais agressiva na tentativa de se tornar um polo de VEs. Com o programa “EV 3.0”, lançado em 2022, o governo implementou cortes de impostos e subsídios de até US$ 4,5 mil (cerca de R$ 25 mil) por veículo, tornando os carros elétricos tão acessíveis quanto os modelos a combustão. Como resultado, a participação dos elétricos nas vendas de automóveis do país já atingiu 15%. Entretanto, essa política gera preocupações sobre a redução de empregos no setor automotivo, uma vez que os VEs demandam menos peças e componentes do que os veículos tradicionais.
A Indonésia, por sua vez, optou por uma abordagem diferente. O país tem utilizado sua vasta reserva de níquel, essencial para baterias de VEs, como um trunfo estratégico. Desde 2020, a Indonésia impôs restrições à exportação de minério bruto para estimular a produção local. O governo também concedeu uma série de incentivos fiscais para atrair investimentos estrangeiros, resultando em aportes de US$ 29 bilhões entre 2016 e 2024. Apesar desse volume expressivo, grande parte dos investimentos é proveniente de empresas chinesas, que montam veículos a partir de kits importados, levantando dúvidas sobre os reais benefícios para a economia local.
O Vietnã aposta na VinFast, montadora ligada ao conglomerado Vingroup. Desde 2022, a empresa vende exclusivamente veículos elétricos e tenta expandir sua presença internacional. Após dificuldades iniciais no mercado norte-americano, a VinFast direciona esforços para a Índia e a Indonésia. Apesar do apoio estatal e de subsídios para infraestrutura de recarga, a montadora enfrenta desafios financeiros, operando com margens negativas e sustentada por injeções de capital de seu proprietário, o bilionário Pham Nhat Vuong.
Os três países compartilham um risco comum: o excesso de oferta global de veículos elétricos, impulsionado pela produção chinesa. Além disso, há a preocupação de que esses países se tornem meros centros de montagem, sem agregar valor significativo à cadeia produtiva. Diferentemente dos carros tradicionais, os VEs dependem menos de redes de fornecedores locais e mais de tecnologia avançada em software e engenharia elétrica, áreas nas quais o Sudeste Asiático ainda depende de expertise estrangeira.
Especialistas acreditam que, no futuro, a presença de fabricantes chineses pode consolidar alguns centros de produção na região, dando mais poder de barganha aos governos locais. No entanto, há um consenso de que, na melhor das hipóteses, apenas um desses países poderá emergir como um grande polo de produção de veículos elétricos, deixando os demais com investimentos vultosos e pouco retorno. A disputa está em aberto.