Tesla Alerta Trump Sobre Riscos de Tarifas Retaliatórias em Meio à Guerra Comercial

Montadora de Elon Musk teme impactos desproporcionais e pede cautela ao governo dos EUA em sua política tarifária agressiva.

Washington (EUA), 13/03/2025 – A Tesla, fabricante de veículos elétricos liderada por Elon Musk, emitiu um alerta à administração de Donald Trump nesta semana, destacando sua vulnerabilidade a tarifas retaliatórias decorrentes da escalada da guerra comercial promovida pelo presidente americano. Em uma carta ao Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), a empresa expressou preocupação com os efeitos adversos das políticas tarifárias de Trump, que planeja impor taxas significativas sobre veículos e peças importados a partir de abril. O documento, divulgado em 11 de março, reflete um temor crescente entre empresas americanas diante de um cenário de retaliações globais.

O Alerta da Tesla

“Os exportadores dos EUA estão, por natureza, expostos a impactos desproporcionais quando outros países respondem às ações comerciais dos EUA”, afirmou a Tesla na carta, que não foi assinada por um autor específico, mas carrega o timbre oficial da companhia. A montadora destacou que ações comerciais anteriores, como as da primeira gestão Trump, desencadearam “reações imediatas” de países-alvo, incluindo tarifas elevadas sobre veículos elétricos (EVs) exportados pelos EUA. “Queremos evitar esse tipo de retaliação novamente”, acrescentou, sinalizando o risco de perda de competitividade em mercados internacionais.

A Tesla, que monta todos os seus veículos vendidos nos EUA em fábricas na Califórnia e no Texas, depende de uma cadeia de suprimentos global. Apesar de esforços para localizar a produção — como sua planta de baterias em Nevada e refino de lítio no Texas —, a empresa admitiu que “certas peças e componentes são difíceis ou impossíveis de obter dentro dos EUA”. Isso a torna suscetível a custos adicionais se tarifas sobre importações de matérias-primas, como lítio e cobalto, forem intensificadas.

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Contexto da Guerra Tarifária

Trump, que assumiu a presidência em janeiro de 2025, intensificou sua agenda comercial protecionista. Em 4 de março, ele impôs tarifas de 25% sobre importações do Canadá e México — suspensas temporariamente até 2 de abril após negociações — e elevou de 10% para 20% as taxas sobre produtos chineses. A medida, justificada como combate ao tráfico de fentanil e imigração ilegal, desencadeou retaliações rápidas: o Canadá anunciou tarifas de 25% sobre US$ 155 bilhões em bens americanos, enquanto a China respondeu com taxas de até 15% sobre exportações agrícolas dos EUA.

A Tesla teme ser um alvo direto. Líderes canadenses, como Chrystia Freeland, sugeriram uma tarifa de 100% sobre os EVs da empresa, e o premiê de Ontário, Doug Ford, cancelou um contrato de US$ 68 milhões com a Starlink, da SpaceX, outra companhia de Musk. Posts no X ecoam o clima: “Canadá mirando Tesla em resposta às tarifas de Trump”, escreveu @GlobalTradeWatch em 12 de março.

Musk e Trump: Uma Aliança Tensa

Elon Musk, um dos maiores apoiadores de Trump — com doações de mais de US$ 300 milhões à sua campanha e liderança do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) —, enfrenta um paradoxo. Enquanto as tarifas podem beneficiar a Tesla ao encarecer concorrentes estrangeiros como Toyota e BYD, elas também ameaçam sua operação global. A China, segundo maior mercado da empresa, já segura a aprovação de sua tecnologia de direção autônoma como “moeda de troca”, segundo o Financial Times. Na Europa, analistas preveem impactos na cadeia de suprimentos de EVs caso as tarifas de 25% sobre a UE, anunciadas em fevereiro, avancem.

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A carta da Tesla, enviada por Miriam Eqab, conselheira jurídica da empresa, pede que o USTR “avalie as limitações da cadeia de suprimentos doméstica” para não sobrecarregar fabricantes americanos. “Apoiamos a equidade no comércio global, mas essas ações não devem prejudicar inadvertidamente as empresas dos EUA”, diz o texto.

Repercussões no Setor Automotivo

A Autos Drive America, representando montadoras como Toyota, Volkswagen e Hyundai, também alertou o USTR. “Tarifas amplas interromperão a produção nas fábricas americanas”, afirmou o grupo, destacando que cadeias de suprimentos não se ajustam rapidamente. O resultado? Preços mais altos, menos opções para consumidores e risco de demissões. A General Motors, que monta EVs como o Chevrolet Equinox no México, pode ver custos dispararem, enquanto a Tesla, apesar de sua produção doméstica, não escapa totalmente devido a peças importadas.

Um Futuro Incerto

O alerta da Tesla expõe uma tensão entre os interesses de Musk e as políticas de Trump. Enquanto o bilionário promete dobrar a produção nos EUA nos próximos dois anos — anunciado em 11 de março na Casa Branca —, sua empresa enfrenta queda de 40% nas ações desde janeiro, vandalismo em concessionárias e boicotes por sua associação com Trump. O Bloomberg relata que a Tesla teme que “o aumento dos custos de produção nos EUA a torne menos competitiva globalmente”. Com tarifas retaliatórias no horizonte e um mercado polarizado, o equilíbrio entre apoio político e sobrevivência comercial será testado como nunca.


Texto baseado em informações da Reuters

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