Economia

Venezuela impõe barreiras a produtos brasileiros e testa relações com governo Lula

Itamaraty investiga entraves a exportadores que podem configurar a quebra de um acordo bilateral, em um cenário de crescente tensão diplomática entre os dois países.

O comércio entre Brasil e Venezuela, que já navegava em águas turbulentas devido ao cenário político, enfrenta um novo e grave obstáculo. Exportadores brasileiros estão relatando sérias dificuldades para enviar seus produtos ao país vizinho, levando o governo brasileiro a acionar a diplomacia para investigar o que pode ser uma violação de um acordo bilateral por parte do governo de Nicolás Maduro. A situação tensiona ainda mais uma relação já desgastada por divergências políticas.

A Sombra da Tarifa e a Quebra de Acordos

O Itamaraty, em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), confirmou que acompanha os relatos e que a Embaixada do Brasil em Caracas já está apurando a natureza dos entraves junto às autoridades venezuelanas. A principal preocupação é garantir o cumprimento do Acordo de Complementação Econômica nº 69 (ACE 69), que estabelece uma zona de livre comércio e veda a cobrança de imposto de importação entre os dois países.

Embora o governo brasileiro ainda trate a questão com cautela diplomática, informações não oficiais indicam que a Venezuela teria passado a cobrar tarifas que podem chegar a 77% sobre produtos brasileiros. Se confirmada, a medida representa um golpe direto no acordo comercial e uma barreira protecionista unilateral. Em 2024, o Brasil exportou US$ 1,2 bilhão para a Venezuela, principalmente em alimentos como açúcares, melaços e milho, produtos essenciais para o abastecimento local.

Impacto Regional e a Voz de Roraima

A crise já reverbera com força na fronteira. A Federação das Indústrias do Estado de Roraima (FIER) informou que seu Centro Internacional de Negócios está investigando as causas dos problemas, que parecem se concentrar na aceitação dos Certificados de Origem pelas autoridades venezuelanas. Este documento é fundamental para comprovar que o produto é brasileiro e, assim, garantir a isenção de impostos prevista no acordo.

A FIER, que representa um dos estados mais afetados por qualquer instabilidade na relação bilateral, reiterou seu compromisso com o diálogo para preservar o fluxo comercial. A situação expõe a vulnerabilidade dos exportadores brasileiros, especialmente os da região Norte, que dependem da estabilidade das regras para manterem suas operações e os empregos gerados por elas.

Pano de Fundo Político: O Desgaste na Relação Lula-Maduro

É impossível desassociar a atual crise comercial do crescente distanciamento político e diplomático entre os governos de Lula e Nicolás Maduro. Apesar da retomada das relações no início do governo petista, as recentes eleições venezuelanas abriram uma fissura entre os antigos aliados. A cobrança de Lula e de outros líderes internacionais pela divulgação das atas eleitorais, que poderiam comprovar a vitória da oposição, foi mal recebida em Caracas.

A recusa de Maduro em garantir transparência ao processo eleitoral e a posterior validação de sua vitória por uma Suprema Corte alinhada ao regime azedaram o clima diplomático. O atual entrave comercial surge, portanto, como uma possível retaliação ou, no mínimo, como um reflexo da falta de confiança e cooperação entre as duas administrações.

O episódio das exportações bloqueadas transcende a esfera comercial. Ele funciona como um termômetro da complexa e deteriorada relação entre Brasil e Venezuela, onde a afinidade ideológica do passado se choca com a dura realidade dos interesses econômicos e da crise democrática venezuelana. Para o Brasil, o desafio é duplo: proteger seus produtores e, ao mesmo tempo, navegar nas águas turbulentas de uma vizinhança que exige pragmatismo sem abandonar a defesa de princípios democráticos.

Redação do Movimento PB [GME-GOO-26072025-1200-15P]

Da redação, com informações da GloboNews

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