Fies Social: Alunos de Medicina Pagam Mais de R$ 2 Mil Mensais, Questionando a Natureza ‘Social’ do Programa

Criado para beneficiar pessoas de baixíssima renda, o Fies Social exige pagamentos mensais de até R$ 2 mil para estudantes de medicina, levantando críticas sobre sua eficácia e compromisso social.

“Fies Social? De ‘social’, ele não tem nada”, Eduarda Cardoso, 22 anos

Em 2024, o Ministério da Educação (MEC) lançou o Fies Social com a promessa de democratizar o acesso ao ensino superior para famílias com renda per capita de até meio salário mínimo (R$ 759), um valor significativamente abaixo do limite do Fies tradicional (até três salários mínimos). No entanto, o que deveria ser uma ponte para a educação superior tem se mostrado um abismo financeiro para muitos estudantes, especialmente aqueles matriculados em cursos caros como medicina.

O Funcionamento do Fies Social:

O programa funciona como um empréstimo educacional: o governo financia 100% dos custos educacionais durante o curso, com a expectativa de que os estudantes paguem essa dívida após a formatura, quando estiverem empregados. No entanto, o financiamento tem um teto de R$ 10 mil por mês para cursos de medicina, valor que não reflete a realidade do mercado educacional, onde mensalidades podem facilmente ultrapassar essa cifra. Qualquer valor acima desse limite deve ser pago pelo estudante, gerando uma “coparticipação” significativa.

A Realidade dos Estudantes:

  • Eduarda Cardoso, de 22 anos, é uma voz crítica do programa. Com uma renda familiar de R$ 700 por pessoa, ela enfrenta um pagamento mensal de R$ 2.300 para continuar seus estudos em medicina. “Fies Social? De ‘social’, ele não tem nada”, desabafa, destacando a ironia de um programa que deveria ser inclusivo.
  • Ana Silva, estudante de Salvador, foi uma das 2,3 mil pessoas que ingressaram em medicina pelo Fies Social em 2024. Sua mensalidade iniciou em R$ 12.553,60, com uma coparticipação de R$ 2.553,60. Em 2025, com a mensalidade elevando-se para R$ 14.037, Ana se viu forçada a considerar o trancamento da matrícula devido à insustentabilidade financeira.
  • Lorena Alves decidiu não assinar o contrato do Fies Social após perceber que o financiamento não cobriria todos os custos, especialmente considerando a necessidade de mudar de cidade para estudar. O sonho de estudar medicina transformava-se num pesadelo financeiro.
  • Letícia Brandão, mãe solo e beneficiária do Bolsa Família, tenta manter-se no curso vendendo doces e salgados para cobrir a coparticipação de quase R$ 1.000 mensais. A perspectiva de desistir, ela diz, seria humilhante.
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A Reação do Governo e Alternativas Propostas:

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) defende o teto de financiamento como uma medida de sustentabilidade, evitando o superendividamento dos estudantes. No entanto, reconheceu a necessidade de revisão e prometeu analisar uma possível elevação do limite de financiamento para medicina ainda no primeiro bimestre de 2025.

Para além do teto financeiro, há um debate sobre outras soluções:

  • Reajuste Regular do Teto: Ajustar o limite de financiamento com maior frequência para acompanhar os aumentos nas mensalidades.
  • Descontos Institucionais: Embora uma portaria de 2024 permita que as instituições ofereçam descontos, na prática, essas reduções são raras, já que a palavra “poderá” não obriga as universidades a adotar essa prática.
  • Incentivos Fiscais para Descontos: Propor benefícios fiscais às instituições que concedem descontos equivalentes à coparticipação, distribuindo o custo da educação de forma mais equitativa.
  • Maior Investimento em Educação Pública: Alguns educadores argumentam que o foco deveria ser ampliar as vagas em universidades públicas, reduzindo a necessidade de financiamento privado e o endividamento dos estudantes.
  • Programas de Residência Médica: Vincular o financiamento a programas de serviço em áreas carentes, permitindo o abatimento da dívida por meio do trabalho em comunidades necessitadas.

Conclusão:

O Fies Social, em sua concepção, é um passo importante para a inclusão educacional, mas a execução atual revela falhas que tornam o acesso à educação ainda um desafio para os mais vulneráveis. A necessidade de revisão e adaptação do programa é urgente, não apenas para atender às necessidades imediatas dos estudantes, mas para garantir que o acesso ao ensino superior seja verdadeiramente “social” e não apenas um rótulo sem sentido prático.

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Texto adaptado de G1 e revisado pela nossa redação.

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