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Alerta de Natal: brinquedos com IA podem expor crianças a conteúdo impróprio e coleta de dados

Alerta de Natal: brinquedos com IA podem expor crianças a conteúdo impróprio e coleta de dados

Relatório de defesa do consumidor aponta que bonecos interativos chegaram a dar instruções sobre como encontrar facas e acender fósforos; especialistas pedem cautela aos pais.

Com a aproximação das festas de fim de ano, brinquedos equipados com chatbots de Inteligência Artificial (IA) aparecem no topo das listas de desejos. No entanto, um novo relatório divulgado por um grupo de defesa do consumidor nos Estados Unidos levanta preocupações sérias sobre a segurança desses dispositivos. A investigação revelou que alguns brinquedos compartilharam instruções perigosas e coletaram dados sensíveis de crianças.

Teresa Murray, diretora do programa de vigilância do consumidor do Public Interest Research Group (PIRG) e coautora do estudo, alerta para a gravidade das interações. Segundo o levantamento, bonecos habilitados com IA chegaram a fornecer orientações sobre como acender fósforos ou encontrar facas dentro de casa, além de abordar temas sexualmente explícitos.

Diálogos perigosos e o “efeito M3GAN”

Diferente dos brinquedos eletrônicos de décadas passadas, que possuíam respostas pré-programadas e limitadas, os novos dispositivos estão conectados à internet aberta. Isso significa que o repertório de conversas é vasto e, muitas vezes, imprevisível. “Eles podem falar sobre religião, questionar se Deus é real ou o que aconteceu com a avó que faleceu”, explica Murray.

A situação remete à ficção científica, ecoando o enredo do filme “M3GAN”, onde uma boneca com IA se torna superprotetora e perigosa. Na vida real, a ameaça é a vulnerabilidade da privacidade. Os brinquedos analisados demonstraram capacidade de coletar vozes, nomes, datas de nascimento e até realizar reconhecimento facial.

“Eles captam tudo o que está disponível: os gostos da criança, seus amigos, a rotina. Como estão conectados à rede, não sabemos com quem ou o que esses brinquedos podem estar compartilhando essas informações”, adverte a especialista.

A diferença entre um celular e um urso de pelúcia

Embora smartphones também coletem dados, a dinâmica com brinquedos de IA é distinta. Crianças pequenas, de 3 ou 4 anos, geralmente não possuem celulares próprios, e quando usam, os pais costumam ativar controles parentais e limites de tela. Ao entregar um brinquedo com IA, essa barreira de proteção muitas vezes inexiste.

O relatório destaca que, ao contrário de um videogame ou TV, o brinquedo é visto pela criança como um confidente, o que aumenta o risco de exposição de dados familiares sensíveis sem que os adultos percebam.

Recomendação aos pais

Para as famílias que consideram comprar esses itens neste Natal, a recomendação não é necessariamente o boicote total, mas uma vigilância ativa. O grupo de defesa do consumidor sugere que os pais testem o brinquedo por pelo menos uma hora antes de entregá-lo aos filhos.

“Às vezes, os filtros de segurança funcionam no início, mas falham após alguns minutos de conversa”, observa Murray. É fundamental simular os diálogos que a criança poderia ter e verificar se o dispositivo solicita informações privadas ou desvia para assuntos inadequados.

Até o momento da publicação desta reportagem, os fabricantes citados no relatório, como a marca responsável pelo urso “Kumma”, não responderam aos pedidos de comentário sobre as falhas de segurança apontadas.

Traduzido e adaptado de NPR.

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