Gigantes como Alibaba e Tencent acumulam poder que preocupa o Partido Comunista Chinês, levando a multas e fragmentação. Mercado interno robusto impulsiona inovação, mas expansão global esbarra em desafios.
BAT: Do Oligopólio à Intervenção Estatal
As empresas chinesas Baidu, Alibaba e Tencent, conhecidas como BAT, já representaram um oligopólio tão poderoso que o governo precisou intervir. Segundo In Hsieh, consultor de negócios Brasil-China, o Alibaba, por exemplo, vai além do comércio digital: controla o maior meio de pagamento do país (Alipay) e uma plataforma de nuvem líder. “Jack Ma [fundador do Alibaba] sabe tudo sobre os chineses. Quando você compra de um concorrente usando o Alipay, ele rastreia cada movimento”, explica Hsieh.
A resposta do Partido Comunista foi dura: multas bilionárias e o bloqueio da abertura de capital do Alipay. O grupo, então, fragmentou-se para reduzir o controle centralizado. “Do ponto de vista empresarial, é brilhante. Para o consumidor, é uma invasão sem precedentes”, critica Hsieh.
Do Lixo ao Luxo: A Revolução do Mercado Chinês
A China deixou para trás a fama de produtora de “bugigangas”. Impulsionada por uma classe média de 400 milhões de pessoas, o país hoje consome — e produz — marcas de luxo e tecnologia de ponta. “O mercado interno não aceita mais produtos baratos. Compra design alemão, tech japonesa e status francês”, afirma Hsieh.
Com províncias que equivalem a continentes inteiros em população, o mercado local é tão vasto que empresas podem crescer sem jamais cruzar fronteiras. A Shein, por exemplo, é uma gigante global do fast fashion, mas sequer opera na China. “Elas nascem internacionais”, destaca o consultor.
Expansão Global: Sucessos e Tropeços
Empresas chinesas de tecnologia, como TikTok e Huawei, têm DNA global. “Estão na internet, têm apps baixados mundialmente”, observa Hsieh. No entanto, a expansão para mercados como o Brasil é complexa. “A maioria das que vieram falhou. O Brasil é um desafio cultural e burocrático”, admite.
Exceções são as techs com infraestrutura digital, que driblam barreiras físicas. Já setores tradicionais, como varejo, dependem de adaptação local — algo que a Xiaomi e a BYD conseguiram com eletrônicos e carros elétricos.
Censura e Inovação: As Regras do Jogo
Na China, a internet é um “projeto de censura bem-acabado”, nas palavras de Hsieh. Setores estratégicos, como telecomunicações e redes sociais, são vigiados de perto. “O governo decide o tom, a frequência e até o que pode ser dito”, explica.
Mas a rigidez regulatória não impede a inovação. Enquanto o Ocidente se maravilha com o DeepSeek (IA que resolve problemas complexos com baixo custo), a China foca em seus “dragões” e “tigres” da inteligência artificial — startups apoiadas por subsídios estatais e acesso a dados massivos.
O Paradoxo do Poder
Para Hsieh, o sucesso das Big Techs chinesas é um paradoxo: “Elas incomodam o governo, mas são essenciais para a economia”. Enquanto o Alibaba sabe mais que a Amazon sobre seus usuários, o Partido Comunista mantém o controle final. “É um jogo de xadrez: as empresas inovam, o Estado regula. Quem ganha? A China como um todo”, conclui.
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Texto adaptado de UOL/Tilt e revisado pela nossa redação.