Avança Construção da Maior Usina de Urânio do Brasil em Meio a Controvérsias sobre Radiação e Consumo de Água
A construção da maior usina de urânio do Brasil recebeu licença de localização, gerando debate sobre seus impactos ambientais e na saúde pública. Localizada em Santa Quitéria, Ceará, o projeto enfrenta críticas de ambientalistas e moradores devido ao potencial aumento de radiação e ao elevado consumo de água, em uma região já carente deste recurso.
A maior usina de urânio do Brasil está prestes a se tornar realidade após a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) conceder a licença de localização para sua construção em Santa Quitéria, no Ceará, a aproximadamente 220 km de Fortaleza. O projeto, entretanto, está envolto em polêmicas e dividindo opiniões entre especialistas, ambientalistas e a população local.
Licença e Próximos Passos
Com a licença de localização recentemente aprovada, o consórcio Santa Quitéria, formado pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e Galvani Fertilizantes, está autorizado a iniciar a construção da usina. O próximo passo crucial envolve a realização de estudos para garantir a segurança nuclear e radiológica do empreendimento. A região, conhecida por possuir reservas de urânio, já apresenta níveis de radiação acima da média, o que eleva as preocupações sobre a saúde dos moradores.
Impactos Ambientais e de Saúde
A proposta de explorar uma área de 4.042 hectares na fazenda Itatiaia por duas décadas prevê a extração de 80 mil toneladas de urânio e 8,9 milhões de toneladas de fosfato, com um investimento total de R$ 2,3 bilhões. Ambientalistas e a população local temem que o aumento da radiação e o alto consumo de água agravarão as condições de vida na região. A histórica carência de água no Ceará é um ponto crítico, e a expectativa é que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) vete a construção.
Avaliações Técnicas e Concessões
A CNEN, ao conceder a licença, avaliou diversos aspectos técnicos, incluindo geográficos, hidrológicos, geológicos, e de proteção radiológica ambiental. A aprovação foi dada após um parecer técnico detalhado, mas a decisão final ainda depende da análise do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (Rima), que estão sendo revisados pelo Ibama. Somente após a conclusão desses estudos, o Ibama poderá emitir sua própria licença.
Preocupações e Garantias
Em 2022, o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) divulgou um relatório crítico ao projeto, destacando a falta de dados claros sobre a radiação e sugerindo que os licenciamentos não fossem concedidos. O relatório citou a proibição de acesso a túneis escavados nos anos 1980 como um exemplo de falta de transparência.
Apesar das críticas, o Consórcio Santa Quitéria assegura que a usina será segura. As empresas afirmam que todos os possíveis impactos ambientais foram minuciosamente estudados e que medidas adequadas serão implementadas para mitigá-los. Sobre a questão do consumo de água, o consórcio garante que, em caso de escassez, a legislação brasileira prioriza o abastecimento humano e animal.
O projeto da maior usina de urânio do Brasil avança em meio a um intenso debate sobre seus possíveis benefícios econômicos e seus impactos ambientais e de saúde pública. Com a licença de localização aprovada, os próximos passos serão cruciais para determinar se a usina poderá operar de maneira segura e sustentável, atendendo tanto às necessidades energéticas do país quanto às preocupações da população e dos ambientalistas.