Cães estão passando por uma nova fase de domesticação, apontam cientistas

Estudos recentes indicam que os cães estão entrando em uma terceira fase de domesticação, impulsionada pela necessidade dos humanos de terem animais de estimação mais calmos, amigáveis e adaptados a um estilo de vida urbano. Pesquisadores da Universidade de Linköping, na Suécia, identificaram que essa transformação está relacionada ao aumento da ocitocina, conhecida como o “hormônio do amor”, que fortalece o vínculo social dos cães, especialmente os de serviço, com seus donos.

Até algumas décadas atrás, os cães eram essencialmente vistos como animais de trabalho, desempenhando funções como caçar, proteger e pastorear. Hoje, porém, o papel desses animais mudou significativamente, com a companhia se tornando a prioridade principal. Esse novo contexto parece estar promovendo alterações no comportamento e até na biologia dos cães.

A pesquisa analisou o comportamento de 60 cães da raça golden retriever, que foram submetidos a um teste onde precisavam abrir um pote de guloseimas. Os cães receberam uma dose de spray nasal contendo ocitocina em um momento, e uma solução salina neutra em outro. Aqueles que possuíam uma variante específica no receptor de ocitocina demonstraram uma maior propensão a buscar ajuda dos seus donos ao invés de tentar resolver o problema sozinhos.

Segundo os cientistas, essas variações genéticas que afetam a sensibilidade à ocitocina podem explicar a evolução das habilidades sociais dos cães. Conforme essas alterações ocorreram, os cães se tornaram mais aptos a interagir com humanos, e essa nova fase de domesticação reflete essa transformação.

Os especialistas Brian Hare e Vanessa Woods, que estudam o comportamento dos cães, sugerem que essa terceira onda de domesticação está moldando os cães de serviço como os exemplares mais evoluídos. Eles ressaltam que esses cães são especialmente adaptados à vida no século XXI, possuindo temperamentos amigáveis e a capacidade de executar tarefas complexas, além de se integrarem perfeitamente às rotinas dos seus donos.

Com o passar dos anos, o papel dos cães mudou significativamente. Antes, eles viviam ao ar livre e desempenhavam funções práticas. Hoje, são companheiros dentro de casa, convivendo em um ambiente urbano e repleto de novas exigências sociais. Para Woods e Hare, essa mudança também impôs novos desafios, e cães que não se adaptam a esse novo contexto têm mais chances de serem abandonados em abrigos.

Ao longo dessa evolução, os cães de serviço surgem como um modelo de adaptação. “Esses animais são quase uma raça diferente, quando comparados a cães de trabalho militar ou mesmo a cães de companhia comuns”, afirmam os especialistas. O que antes era valorizado em um animal de trabalho, como o comportamento defensivo, pode hoje ser um obstáculo em ambientes urbanos.

Os cientistas concluem que, com a nova fase de domesticação, os cães estão se tornando cada vez mais integrados às vidas humanas, refletindo as mudanças no papel que desempenham na sociedade.

Texto adaptado de O Globo e revisado pela nossa redação.

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