Calor extremo na Europa: o que a ciência diz sobre nossa nova realidade
A Europa sob um “domo de calor”
A Europa Central está enfrentando uma onda de calor extremo que já causou mortes, forçou o fechamento de um reator nuclear na Suíça e disparou alertas de saúde em várias das maiores cidades do continente. Com temperaturas atingindo picos de 40°C na Alemanha e chegando a 46,6°C em Portugal, o evento climático severo serve como um lembrete contundente do que os cientistas vêm alertando há anos: esta é a nossa nova realidade climática.
Para especialistas, o fenômeno não é uma surpresa, mas sim a confirmação de uma tendência. As ondas de calor estão se tornando mais frequentes, mais longas e mais intensas. A pergunta que fica não é mais “se” elas vão acontecer, mas “quão piores” elas podem se tornar. A resposta, segundo a ciência, está em uma combinação de um fenômeno meteorológico específico com o aquecimento global.
Como funciona o “domo de calor”?
O evento atual na Europa é causado por um fenômeno conhecido como “domo de calor”. Ele funciona como uma tampa de panela sobre uma vasta região. A ciência por trás disso é a seguinte:
- Alta Pressão Atmosférica: Uma forte área de alta pressão se instala na atmosfera, empurrando o ar para baixo.
- Compressão e Aquecimento: Conforme o ar desce, ele é comprimido, o que o aquece ainda mais.
- Bloqueio de Nuvens: Este sistema de alta pressão suprime a formação de nuvens, resultando em dias de sol forte e contínuo, sem a possibilidade de chuvas para aliviar o calor.
Neste caso, o sistema está aprisionando uma massa de ar quente e seco vinda do norte da África sobre o continente europeu. Embora o “domo de calor” seja um evento meteorológico natural, as mudanças climáticas atuam como um amplificador, tornando-o muito mais intenso e perigoso.
A conexão inegável com as mudanças climáticas
“Com as mudanças climáticas, estamos destinados a ver ondas de calor mais intensas, longas e frequentes, e é exatamente isso que estamos vendo”, afirmou Carlo Buontempo, diretor do Serviço de Mudança Climática Copernicus. O aquecimento do planeta, causado pela queima de combustíveis fósseis, torna a atmosfera mais quente e propensa a reter calor, transformando ondas de calor que seriam raras em eventos quase anuais.
A diretora do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Inger Andersen, foi enfática: “Nossa nova realidade climática significa que não podemos mais nos surpreender quando as temperaturas atingem níveis recordes a cada ano”. Mais de dois terços das ondas de calor severas na Europa desde 1950 ocorreram a partir do ano 2000, um dado que não deixa dúvidas sobre a aceleração do problema.
O que isso significa para o Brasil?
Engana-se quem pensa que este é um problema exclusivo da Europa. O Brasil já está sentindo os efeitos dessa nova realidade. Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o país registrou nove ondas de calor em 2023 e oito já em 2024. Um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou um dado ainda mais alarmante: o número de dias sob ondas de calor no Brasil aumentou de 7 para 52 nas últimas três décadas.
O aquecimento global não se manifesta apenas com o calor. Ele também está ligado a variações bruscas de temperatura e a eventos extremos de todos os tipos, como tempestades mais fortes e secas mais severas. A onda de calor que hoje castiga a Europa é um vislumbre do futuro que aguarda todo o planeta se medidas drásticas para frear as mudanças climáticas não forem tomadas com urgência.
Redação com informações de UOL