China inaugura usina de armazenamento de energia de última geração e quebra três recordes mundiais de uma só vez

Armazenar o excedente de energia sustentável para períodos sem sol e vento é uma tarefa fundamental do século XXI

A China acaba de colocar em operação a Nengchu-1, uma usina de armazenamento de energia que está chamando a atenção do mundo por quebrar três recordes mundiais simultaneamente. Localizada na província de Hubei, ela representa um marco no uso de ar comprimido como solução para um dos maiores desafios da energia renovável: como guardar eletricidade verde para quando o sol não brilha e o vento não sopra.

Ar comprimido como “bateria gigante”

A tecnologia utilizada é conhecida como armazenamento de ar comprimido (CAES, na sigla em inglês). Funciona assim: quando há excesso de geração de energia, como em dias ensolarados ou de ventos fortes, esse excedente é usado para acionar compressores que armazenam ar em cavernas subterrâneas. Depois, quando a demanda aumenta ou a produção diminui, esse ar é liberado sob pressão para acionar turbinas e gerar eletricidade. É como se fosse uma “bateria de ar”.

A Nengchu-1 é a primeira usina do mundo a utilizar uma versão adiabática dessa tecnologia em larga escala. Isso significa que o calor gerado no processo de compressão do ar é armazenado e reaproveitado depois, o que reduz perdas de energia e aumenta a eficiência. Com isso, a usina estabeleceu três recordes globais:

  • Maior rendimento energético entre usinas do tipo;
  • Maior capacidade de armazenamento: 1.500 megawatts-hora (MWh);
  • Maior potência de geração: 300 megawatts (MW).
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Para efeito de comparação, esse valor permite fornecer 300 MW de energia por cinco horas seguidas. Já as maiores turbinas eólicas do mundo, por exemplo, têm capacidade de cerca de 20 MW — e dependem do vento soprar continuamente.

Tecnologia de ponta e eficiência inédita

A Nengchu-1 representa um avanço significativo em relação às versões mais antigas de usinas CAES. Até então, as principais referências eram as instalações de Huntorf, na Alemanha, que usavam o modelo diabático — nesse caso, o calor gerado durante a compressão do ar era simplesmente descartado. Isso exigia a queima de gás natural para reaquecê-lo depois, o que tornava o sistema menos eficiente e mais poluente. A eficiência energética ficava em torno de 50%.

Já no modelo adiabático, adotado pelos chineses, o calor é capturado, armazenado e reutilizado no processo. Isso permite uma eficiência muito maior, de até 70%, com menos impacto ambiental.

Expansão acelerada: o próximo passo é ainda maior

A usina Nengchu-1 começou a operar comercialmente em 2024, mas já tem uma sucessora em construção. A China anunciou uma nova planta com capacidade de 700 MW e armazenamento de 2.800 MWh — quase o dobro da atual. E a CEEC, empresa estatal responsável pela operação, já planeja instalações com 1.000 MW de potência.

Além disso, uma inovação adicional está em desenvolvimento: o uso de túneis escavados na rocha como reservatórios de ar. Até então, a tecnologia dependia de cavernas naturais, como as de sal, que são raras e nem sempre disponíveis. Com essa mudança, será possível construir usinas em uma variedade muito maior de locais.

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Por que a China lidera essa revolução?

A resposta está no investimento maciço, velocidade de execução e menor custo de implantação. De acordo com especialistas, as usinas CAES chinesas são construídas em menos tempo e com menos custo do que outras soluções de armazenamento, como as hidrelétricas reversíveis — aquelas que bombeiam água para reservatórios em períodos de baixa demanda e a soltam para gerar energia nos horários de pico.

Enquanto outras nações ainda discutem como lidar com o armazenamento de energia limpa, a China já está implantando soluções em escala industrial, apostando pesado em tecnologias que garantam segurança energética e estabilidade à sua rede elétrica.

Um futuro com energia verde armazenada

A revolução energética do século XXI passa por um desafio fundamental: como armazenar energia renovável de forma eficiente, limpa e escalável. Com a Nengchu-1 e seus sucessores, a China mostra que o armazenamento de ar comprimido pode ser parte crucial da resposta — e que a corrida tecnológica por fontes sustentáveis está apenas começando.

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