Comércio de pele de jumento: a crise que afeta mulheres e devasta populações
A demanda pelo ejiao e a crueldade do comércio
Um comércio global, em grande parte não regulamentado, está dizimando a população de jumentos em todo o mundo. A causa é a crescente demanda pelo ejiao, um remédio tradicional chinês feito a partir da gelatina extraída da pele desses animais. Segundo a organização The Donkey Sanctuary, pelo menos 5,9 milhões de jumentos são abatidos todos os anos para abastecer essa indústria, em um processo frequentemente marcado pela crueldade.
Com a população de jumentos na China praticamente esgotada, a indústria do ejiao voltou seus olhos para outros países, principalmente na África e na América do Sul, incluindo o Brasil. O resultado tem sido o roubo em massa de animais, o abate ilegal e um sofrimento imensurável para os jumentos, que sofrem em todas as etapas do processo, desde a captura até o transporte e o abate brutal.
O impacto devastador sobre mulheres e crianças
A perda de um jumento vai muito além da questão do bem-estar animal; ela tem um impacto social e econômico devastador, que recai de forma desproporcional sobre mulheres e meninas. Em muitas comunidades rurais na África e em outras partes do mundo, os jumentos são essenciais para a sobrevivência diária. Eles não são apenas animais, mas companheiros de trabalho que ajudam a buscar água, transportar mercadorias para o mercado e levar produtos da lavoura.
Quando um jumento é roubado para abastecer o comércio de peles, a renda de uma família pode cair em até 73%. Em uma região do Quênia, por exemplo, mais de 90% das mulheres já sofreram com o roubo de seus animais. Sem o jumento, o fardo do trabalho pesado recai sobre as mulheres e, muitas vezes, as crianças — especialmente as meninas — são forçadas a abandonar a escola para ajudar nas tarefas que antes eram feitas pelo animal.
A situação crítica dos jumentos no Brasil
O Brasil, e em especial o Nordeste, onde o jumento é um símbolo cultural, está sentindo o impacto devastador desse comércio. A população de jumentos no país sofreu uma queda de 94% nos últimos 30 anos, caindo de 1,37 milhão de animais em 1996 para cerca de 78 mil em 2025. Se a tendência continuar, a espécie corre um sério risco de extinção em nosso território.
A situação alarmante levou a uma mobilização da sociedade civil e de parlamentares. Atualmente, tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que visa proibir o abate de jumentos em todo o país, uma medida que é vista como crucial para salvar a espécie e proteger as comunidades que dependem dela.
Uma esperança na legislação e na cooperação
Há esperança no horizonte. A União Africana, em uma decisão histórica no início do ano, decretou uma moratória em todo o continente, proibindo o abate de jumentos para o comércio de peles. Essa ação coordenada mostra que há um reconhecimento crescente da urgência do problema.
No Brasil, a aprovação da lei que proíbe o abate é vista como uma oportunidade única de proteger os jumentos, que são parte da nossa história e cultura. A luta contra esse comércio cruel não é apenas sobre o bem-estar animal; é sobre proteger os meios de subsistência de comunidades vulneráveis e garantir um futuro mais justo e compassivo tanto para os jumentos quanto para as pessoas que dependem deles.
Redação com informações de The Guardian
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