A recente pesquisa da Kantar Ibope expôs uma realidade inquietante para os principais canais de notícias por assinatura no Brasil: a audiência está em queda livre. Em 2024, GloboNews, CNN Brasil, Jovem Pan, Record News e BandNews registraram, juntas, uma média de apenas 111.792 espectadores ao longo das 24 horas do dia, o que representa meros 0,05% da população brasileira. A constatação levanta um questionamento central: a crise na audiência dos canais de notícia é um sintoma passageiro ou reflete uma mudança estrutural no consumo de informação?

Dispersão e a Concorrência do Entretenimento
A multiplicidade de opções de entretenimento, impulsionada por plataformas de streaming, redes sociais e conteúdos sob demanda, parece estar redesenhando o comportamento do público. A necessidade de atenção concentrada para consumir notícias aprofunda o desafio, considerando que filmes, séries e até vídeos curtos e descontraídos nas redes sociais oferecem alternativas mais leves e acessíveis. A própria estrutura dos canais de notícia, frequentemente apoiada em formatos tradicionais, parece ter dificuldade em competir com a linguagem ágil das novas mídias.
GloboNews: Liderança em Xeque
Apesar da liderança isolada, com 0,13 ponto de audiência (equivalente a 60.554 espectadores), a GloboNews enfrenta um cenário preocupante. No pico da tarde, o canal alcançou 88.502 espectadores, uma queda significativa comparada aos 116.450 registrados seis meses antes. A retração de quase 28 mil espectadores em tão pouco tempo sugere que nem mesmo a marca mais consolidada entre os canais de notícia está imune à tendência de declínio.
Empate Técnico no Segundo Escalão
CNN Brasil, Jovem Pan e Record News aparecem empatadas com 0,03 ponto de audiência cada. A BandNews, por sua vez, amarga a última posição com 0,02 ponto. A baixa diferença nos índices indica uma saturação do público diante de conteúdos semelhantes e pouca inovação nos formatos. O programa “O É da Coisa”, da BandNews, liderado por Reinaldo Azevedo, foi um dos poucos destaques, atingindo 41.922 espectadores, o que evidencia a força de comentaristas de opinião em meio à crise de audiência.
Audiência Qualificada: Um Alento ou um Mito?
Há quem argumente que, embora pequena, a audiência dos canais de notícia seria qualificada, composta por líderes de opinião, formadores de políticas públicas e profissionais influentes. No entanto, a ausência de uma estratégia clara para expandir esse público aponta para um risco de isolamento desses canais em nichos cada vez menores. Sem um rejuvenescimento da linguagem e uma aproximação com novas plataformas, o futuro dos canais de notícia pode ser ainda mais incerto.
Um Cenário Sem Soluções Simples
A análise dos dados sugere que a baixa audiência não pode ser atribuída apenas a uma suposta má qualidade do jornalismo praticado. Pelo contrário, programas como “Em Pauta”, da GloboNews, se destacam pela profundidade das análises e pela qualidade dos profissionais. O problema parece estar mais relacionado à dificuldade dos canais em atrair novos públicos e competir com a fluidez do conteúdo digital.
Em resumo, o desafio para os canais de notícia é claro: ou eles se reinventam rapidamente, adotando novas linguagens, formatos interativos e estratégias eficazes nas redes sociais, ou correm o risco de se tornarem irrelevantes para as novas gerações. A crise na audiência não é apenas um dado estatístico, mas um chamado urgente para a transformação estrutural do jornalismo televisivo no Brasil.
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Com informações de Kantar Ibobe e Poder 360