Cultos evangélicos em universidades públicas: resistência, diversidade e novos debates


Nas últimas semanas, um vídeo mostrando um grupo de estudantes realizando um culto evangélico na praça da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) viralizou nas redes sociais, gerando críticas e discussões sobre o espaço da religião nas universidades públicas. Mas esse tipo de encontro religioso não é exatamente novidade — e, segundo especialistas, pode até ter efeitos positivos.

Para o antropólogo Rodrigo Toniol, da UFRJ, a presença cada vez maior de jovens evangélicos nas universidades traz novas formas de diálogo e convivência. “Isso muda a maneira como os temas são discutidos em sala de aula, e não necessariamente de forma negativa. São experiências de vida que enriquecem o ambiente universitário”, explica.

O número de evangélicos no Brasil saltou de 6% em 1970 para cerca de 31% atualmente. E a presença desse grupo no ensino superior já é antiga: desde 1941, com a fundação da Aliança Bíblica Universitária, evangélicos organizam encontros e atividades nos campi como forma de viver a fé também no ambiente acadêmico.

Apesar disso, a prática ainda levanta polêmica. Isso porque parte dos discursos religiosos, especialmente entre setores mais conservadores, pode vir carregada de preconceitos e exclusões — especialmente contra mulheres, pessoas LGBTQIA+ e outras religiões. Por outro lado, Toniol destaca que há também jovens evangélicos progressistas, que participam de coletivos feministas e LGBTQIA+, demonstrando que o grupo não é homogêneo.

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Sobre o uso de espaços públicos para cultos, o antropólogo afirma que não há impedimento desde que as regras institucionais sejam respeitadas. “Universidades públicas já abrigam manifestações religiosas variadas. Não se trata de intolerância, mas de organização e equilíbrio dentro do espaço democrático.”

No fim das contas, a convivência entre fé e ciência, religião e diversidade de ideias, parece fazer parte do processo de amadurecimento dos estudantes. Em vez de confronto, o ambiente universitário pode ser um espaço para troca e transformação — até mesmo para quem começou apenas buscando um momento de oração.


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