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De volta ao século 19: Guerra de drones na Ucrânia força a Rússia a reviver a cavalaria em táticas de assalto

De volta ao século 19: Guerra de drones na Ucrânia força a Rússia a reviver a cavalaria em táticas de assalto

Saturação de guerra eletrônica e a vulnerabilidade de blindados levam exército russo a treinar tropas a cavalo, em uma imagem que choca pela mistura do arcaico com o ultratecnológico e simboliza os limites da tecnologia no campo de batalha moderno.

A guerra na Ucrânia, um conflito que se tornou sinônimo de tecnologia de ponta, com drones autônomos e artilharia guiada por satélite, acaba de produzir uma de suas imagens mais anacrônicas e simbólicas. Diante da eficácia devastadora das defesas ucranianas, o exército russo está recorrendo a uma tática que parecia relegada aos livros de história: a cavalaria. Em uma reviravolta que choca pelo contraste, soldados estão sendo treinados para realizar assaltos a cavalo, uma solução arcaica para um problema ultratecnológico que expõe a brutal realidade do impasse no front.

A decisão não é um delírio ou uma peça de propaganda, mas uma resposta desesperada a um ambiente de combate que se tornou letal para os veículos modernos. No início do conflito, os tanques e blindados russos foram alvos fáceis para mísseis antitanque. Mais recentemente, em uma tentativa de aumentar a mobilidade e a velocidade, os russos passaram a usar motocicletas para ataques rápidos, mas estas também se mostraram extremamente vulneráveis ao onipresente enxame de drones FPV (visão em primeira pessoa) que domina os céus da Ucrânia. O campo de batalha se tornou um cemitério de tecnologia, onde qualquer motor ou sinal eletrônico é um alvo em potencial.

É nesse cenário de saturação de guerra eletrônica, onde as comunicações são bloqueadas e os sistemas de navegação falham, que o cavalo ressurge. Segundo informações do jornal russo Kommersant e vídeos divulgados em canais pró-governo como o “WarGonzo”, unidades de assalto na região de Donetsk já estão em treinamento formal. As imagens mostram soldados da unidade “Storm” galopando por campos abertos, alguns até compartilhando a montaria, com um soldado guiando o animal enquanto o outro se prepara para o combate. A iniciativa reflete o impasse a que as tecnologias modernas chegaram em um front onde a interferência eletrônica neutraliza a sofisticação.

O que começou como um improviso, com o uso de burros e cavalos para transportar suprimentos em áreas de difícil acesso, evoluiu para uma doutrina tática. A lógica é brutalmente simples: um cavalo não emite sinal de calor como um motor, não depende de GPS e sua “eletrônica” não pode ser hackeada. Em um ambiente onde a tecnologia se voltou contra si mesma, a solução de mais baixo nível tecnológico se torna, paradoxalmente, a mais resiliente. É a personificação do conceito de guerra assimétrica, onde a vulnerabilidade do adversário — sua dependência de sistemas complexos — é explorada por um método que ele não está preparado para combater.

Ninguém acredita que a cavalaria mudará o rumo da guerra ou substituirá os blindados. A iniciativa, no entanto, é um símbolo poderoso dos limites da guerra moderna. Ela demonstra que, para cada avanço tecnológico, surge uma contramedida, e que a inovação pode levar a um ciclo de escalada que, no limite, torna o campo de batalha inoperável para as próprias ferramentas que o definem. O retorno do cavalo ao front ucraniano não é um sinal de força, mas a mais clara admissão de fracasso tecnológico, um retrato de até que ponto a guerra pode empurrar exércitos a buscar no passado as respostas para os dilemas do presente.

Redação do Movimento PB com informações e imagem de Xataka

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