Escritores boicotam festival: Machado e ‘intervenção imperialista’ geram polêmica

O renomado Hay Festival, que acontece em Cartagena, Colômbia, foi palco de uma intensa controvérsia que resultou no boicote de pelo menos três escritores. O motivo? A presença da opositora venezuelana María Corina Machado na programação do evento, vista por alguns como uma validação de posições políticas que consideram problemáticas.
A polêmica: apoio a Trump e intervenção
A decisão dos autores de se retirarem do festival, conforme noticiado pelo jornal “The Guardian”, está diretamente ligada ao apoio de Machado à campanha de pressão de Trump contra o governo de Nicolás Maduro na Venezuela. A escritora colombiana Laura Restrepo foi uma das primeiras a se manifestar, classificando Machado como “uma apoiadora ativa da intervenção militar dos Estados Unidos na América Latina”.
Em uma carta contundente, Restrepo argumentou que não se deve conceder espaço ou audiência a figuras que “promovem posições e atividades que submetem nossos povos e minam a soberania de nossos países”. Para ela, a “intervenção imperialista não é algo a ser debatido, mas rejeitado de forma categórica”.
O escritor colombiano Giuseppe Caputo, por sua vez, anunciou o cancelamento de sua participação em uma rede social. Ele criticou a escolha do festival, especialmente “diante do grave momento de escalada da violência imperial”, e a decisão de convidar alguém que, em suas palavras, “dedicou um prêmio da paz ao fascista responsável por esses crimes”, referindo-se a Trump.
A ativista e escritora dominicana Mikaelah Drullard também se uniu ao boicote, afirmando que o convite a Machado serve como “uma arma ideológica para promover suas justificativas para intervenção, invasão e militarização dos Estados Unidos no Caribe”, além de seu entusiasmo com o avanço da ultradireita, citando o caso de Kast no Chile.
Machado: Oposição a Maduro e Nobel da Paz
María Corina Machado, figura central da oposição ao regime de Nicolás Maduro, confirmou recentemente, em Oslo, na Noruega, que sua saída da Venezuela contou com o auxílio americano. A opositora, que foi anunciada como vencedora do Nobel da Paz 2025, tem sido uma voz constante contra o governo venezuelano, o que a coloca no centro de debates acalorados sobre a soberania e o papel das potências estrangeiras na região.
A controvérsia em Cartagena sublinha a complexidade das relações políticas na América Latina e o papel da cultura e dos eventos literários como plataformas para discussões que, muitas vezes, transcendem o universo artístico e mergulham fundo nas tensões geopolíticas.
Da redação do Movimento PB.
